Jornal de Campinas

Ter ou não ter arma? Eis a questão

*Adalberto Santos

Primeiramente quero deixar claro que esse texto não tem o objetivo de discutir o direito de se ter uma arma, afinal, isso já é ponto pacificado; o cidadão que estiver dentro das exigências estabelecidas pela lei, tem o direito de tê-la e pronto.

A reflexão é sobre os motivos que levam um cidadão a ter uma arma. Em sua grande maioria, as pessoas afirmam que querem uma arma para ter o direito de se defender – e é incontestável e legítima essa alegação. Mas vamos aos fatos, e que não necessariamente precisamos nos ater a estudos complexos do tema. Algumas perguntas se fazem necessárias para que cada um de nós possa tirar as próprias conclusões dos objetivos – e reais consequências de se ter uma arma:

  1. Nos últimos 5 anos, quantas notícias você acompanhou sobre reação com arma de fogo em assalto, que foi bem sucedida? Talvez umas duas ou três, quando estavam envolvidos policiais ou profissionais habilitados – e com intimidade com a arma.
  2. Nos últimos 5 anos, quantas notícias você acompanhou sobre o uso de arma de fogo em crimes passionais (em especial feminicídios), atos de desinteligência por motivos banais, desde briga de parentes, vizinhos e até mesmo no trânsito?
  3. Você sabia, que caso você esteja com uma arma e reagir, mesmo tendo um treinamento intenso e regular, suas chances são de menos de 10%? Se você não tiver treinamento (de verdade) ela é quase nula.
  4. Quantas e quantas vezes tomamos conhecimento de acidentes envolvendo crianças e adolescentes, muitos deles fatais? Você já conversou com os pais dessas vítimas para saber o que eles sentem e vão sentir para o resto da vida?

Acaba de sair um decreto que permite que o cidadão possua quatro armas. Daí eu pergunto: quatro armas para quê?  Estão esperando a invasão pelo Talibã? Partindo do pressuposto que a finalidade da arma é para defesa pessoal.

Convivi durante toda minha carreira rodeado de armas e sei exatamente onde estão os prós e contras. Sempre existe um risco residual, mas quando ele se concretiza, suas consequências são desastrosas.

Se realmente o seu objetivo é o de se proteger, tenha em mente que a arma é de uso pessoal e intransferível; deve estar guardada em local de nível máximo de segurança. Crianças e adolescentes não devem conviver ou manusear armas em hipótese alguma; o ideal é que nem saibam de sua existência.

Para finalizar essa reflexão, deixo abaixo três pensamentos; dois deles de grandes guerreiros e especialistas na arte da guerra e o outro que nos faz refletir o que queremos para nós:

“A sabedoria vale mais do que as armas de guerra” (Salomão)

“Não são os mais fortes que sobrevivem, e, sim, os que mais rápido se adaptam” (Brigadeiro do ar Antonio Carlos Moretti Bermúdez)

“Uma pessoa inteligente aprende com os seus erros, uma pessoa sábia aprende com os erros dos outros”. (Augusto Cury)

Se me perguntam: Você tem arma?

Ou eu não respondo, ou eu minto.

Em memória de Isabele Ramos

* Adalberto Santos é especialista em segurança e diretor superintendente da Sigmacon. É consultor, palestrante, analista em segurança empresarial e criminal. Possui pós-graduação de processos empresariais em qualidade, MBA em administração e diversos títulos internacionais na área de segurança.

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