Jornal de Campinas

PONTO DE NÃO RETORNO Artigo: O verdadeiro Brinco de Ouro da Princesa D’Oeste

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 Parque científico e tecnológico de Campinas alavanca importância geopolítica do município em nova onda de inovações e programas de crescimento.

Artigo: Guilherme Paes Leme

Campinas é fundamental para o desenvolvimento econômico do estado de São Paulo. Posicionada enquanto ponto nevrálgico do interior, se apresenta (historicamente) como influente regional e concentradora de aparelhos de ciência e tecnologia. No campo acadêmico, a Universidade Estadual de Campinas, 3ª melhor universidade da América Latina1, desponta como gigante da produção científica e referência nas áreas de saúde e medicina. Gema preciosa pública, a Embrapa conecta suas três unidades, Embrapa Territorial, Embrapa Meio Ambiente e Embrapa Agricultura Digital ao parque acadêmico-científico-tecnológico da cidade. Evidentemente, CNPEM e CPQD apontam o norte do compasso da pesquisa em tecnologia. Não suficiente, IAC e ITAL reforçam a participação de Campinas como agente motriz das políticas estaduais e referência da inteligência agropecuária.
Ademais, sedes empresariais do privado e filiais de instituições fazem da Princesa D’Oeste sua residência. Integrados a esta aparelhagem a vasta malha rodoviária do estado e o sistema de transporte aeroviário de cargas (e passageiros) do Aeroporto Internacional de Viracopos.
Neste ínterim, qual é a parte que cabe à Campinas no jogo geopolítico? Qual cadeira lhe é servida e onde almeja chegar? Como o estado de São Paulo instrumenta seu município ímpar? Qual é a influência do Governo Federal no recorte municipal e suas influências nas diferentes escalas? Mais além, como ler os movimentos globais e suas influências locais? Quem ou o que está a maquinar nos bastidores? Qual é o sentido de toda essa aparelhagem? A quem ou o que ela serve? Esta coluna de artigos de opinião, Ponto de Não Retorno, se permite refletir sobre esses (e outros) temas de forma jornalística e opinativa, sem o consentimento do acadêmico.
Assim, é preciso falar sobre política. Em tempos de cólera digital, nunca se fez tão pertinente a desconstrução da máxima “não se discute política, religião e futebol”. Essa frase, de (pouco) efeito, empregada como eco residual, só denuncia o fracasso do brasileiro na educação política. Mais especificamente, é preciso falar sobre geopolítica, mar revolto de águas turvas em que navegar é impreciso. É preciso ver além. E para descobrir o véu, que separa doutrina da realidade, é fundamental pensar criticamente. Em geopolítica, não se escolhem os pontos de partida. As decisões políticas, por inúmeras vezes, se revelam sub-ideais. Campo das emoções e do fatalismo da polaridade, a política merece ser vista com maturidade. Como pensar em termos da geopolítica,
portanto, nossa cidade?
Atualmente, por exemplo, o estado de São Paulo avança na implementação do PIDS ( (Polo de Inovação e Desenvolvimento Sustentável)2 , que prevê territorialmente área de milhões de metros quadrados no distrito de Barão Geraldo na Fazenda Argentina. Embora seja parte integrante do Plano Diretor do município, tão rapidamente se observam os interesses maiores do recorte estadual e federal. A argumentação central é de que programas de incentivos deverão atrair novas empresas e o melhoramento da malha rodoviária e infraestrutura. Contudo, uma
série de questões se apresenta; Qual o verdadeiro benefício para Campinas de forma medida? Existe necessidade de alterar o zoneamento urbano? Quais potenciais riscos e ameaças podem surpreender a proposta de desenvolvimento e inovação? O distrito de Barão Geraldo já sofre com os vertiginosos custos de moradia. Um levantamento imobiliário, realizado em 2023 e publicado no G1 3 , aponta o Parque das Universidades como o metro quadrado mais caro da cidade, atingindo assombrosos R$15.100. O que acontecerá, portanto, com as pressões de
especulação imobiliária no distrito que já é excludente e exclusivo?
Como morador de Campinas por toda a vida e de Barão Geraldo por bons anos, este autor só consegue avaliar um avanço da malha urbana, se feita de forma desgovernada, como incompatível com um planejamento estratégico e efetivo do que preveem as premissas originais do programa. No limite, o quintal leste da Unicamp até a Rodovia Governador Adhemar Pereira de Barros perderá seu horizonte verde e, tão logo, se tornará um borrão cinza de ajuntamentos condominiais conurbados. Um todo contínuo em tons pálidos de cinza. Para além da especulação do espaço e do potencial risco de prédios que desconfiguram a paisagem baronesca, existem os 3 https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2023/12/28/bairro-mais-caro-de-campinas-tem-metro-quadrado-a-r-15-mil-veja-mais-valorizados-e-mais-barato

 

 

*As opiniões expressas pelo autor não representam o veículo de comunicação

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