
Rafael Cervone/Divulgação Ciesp
Rafael Cervone*
A competitividade da indústria e da economia depende cada vez mais da educação, pois a lógica da produção vem mudando rapidamente, exigindo novas competências e habilidades. As empresas demandam de modo crescente a boa formação dos recursos humanos para atender às transformações resultantes do avanço tecnológico e das relações trabalhistas. Esta é uma reflexão inevitável nesta primeira quinzena de outubro, quando se comemoram o Dia das Crianças (12) e o Dia do Professor (15). Afinal, ensinar e apreender com eficácia é uma equação essencial para definir nosso futuro como nação.
O ingresso em um ciclo duradouro de crescimento sustentado exige aumento expressivo da produtividade, o que somente é possível com um sistema que ofereça a todos um ensino de excelência. Diante desse desafio, são preocupantes os resultados do relatório Education at a Glance 2024, da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Fica claro que nosso país ainda mantém distância considerável em relação às economias mais desenvolvidas, além de ficar atrás de alguns vizinhos latino-americanos.
Um dos indicadores mais reveladores é a taxa de jovens entre 25 e 34 anos que não concluíram o Ensino Médio: no Brasil, 27% estão nessa condição, contra apenas 14% na média da OCDE. Houve melhora nos últimos anos, pois em 2016 esse índice era de quase 30%, mas ainda é um dos gargalos estruturais. O Chile e a Colômbia já apresentam taxas mais baixas de evasão nesse nível.
Na Educação Infantil, o Brasil está mais próximo do padrão internacional: 90% das crianças de cinco anos estão matriculadas, pouco abaixo da média da OCDE, de 96%. O avanço é notável, mas ainda há espaço para expansão, sobretudo quando se observa que países como o México já superaram os 93%. Há, ainda, o aspecto qualitativo, que carece de acentuada melhoria.
O gasto por aluno nas instituições públicas é um dos pontos de maior discrepância. Enquanto na média da OCDE o investimento por estudante no Ensino Fundamental é de US$ 11,9 mil por ano, no Brasil o valor é de US$ 3,6 mil. No Ensino Médio, são US$ 4 mil contra mais de US$ 12 mil. No Ensino Superior, a diferença diminui, mas segue expressiva: US$ 13,5 mil ante US$ 17,1 mil. Na comparação com nossos vizinhos, perdemos para o Chile, que destina quase o dobro ao Ensino Fundamental. Os dados também revelam uma ferida social profunda em nosso país: a proporção de adultos jovens com Ensino Superior entre os 25% mais ricos da população é três vezes maior do que entre os 25% mais pobres.
Preocupa-me muito, também, a remuneração da carreira no Magistério. A média salarial de um professor do setor público na Educação Básica no Brasil é definida pelo piso nacional, de R$ 4.867,77 em 2025. O valor é equivalente a US$ 917,4, conforme a média cambial da 1ª quinzena de outubro. São US$ 11,92 mil por ano, considerando o 13º salário. Na média da OCDE, o vencimento anual dos professores do Ensino Médio supera os US$ 43 mil. Na América Latina, o Chile já se aproxima dos padrões dos países desenvolvidos. Nossos mestres precisam ser mais bem remunerados no sistema público, pois são os principais agentes da excelência na formação das sucessivas gerações.
Um segmento no qual, a meu ver, o Brasil tem avançado é na educação técnica, muito em decorrência da reconhecida qualidade do Sistema S, como se observa no Senai, por exemplo. Agora, com o Novo Ensino Médio, abriu-se a possibilidade de ampliação da
formação profissional, permitindo que jovens adquiram mais cedo qualificações valorizadas no mercado. Porém, é necessário garantir maior escala e um padrão nacional de excelência na rede pública.
Os gargalos da educação brasileira estão expressos nos resultados do PISA. Este exame internacional realizado pela OCDE para aquilatar o nível de aprendizado mostra, em sua edição mais recente, que mais de 70% dos estudantes brasileiros de 15 anos não atingiram o nível básico de proficiência em matemática, leitura e ciências. Esse percentual é drasticamente mais alto do que a média da OCDE (cerca de 30%) e indica que simplesmente estar na escola não está se traduzindo em aprendizagem sólida.
É prioritário estabelecer com urgência melhores condições para os professores ensinarem e as crianças aprenderem. Não atender a essa prioridade significa, na prática, conspirar contra o nosso próprio futuro.
*Rafael Cervone é presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e primeiro vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).