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Profa. Roberta Guimarães_Crédito:_Roncon&GracaCom
Escolas, alunos e celulares…
Artigo *Roberta Guimarães
Quantos de nós ‘imigrantes digitais’ não ouviu nossa avó ou mesmo nossa mãe dizer, quando éramos adolescentes, que um dia aquele aparelho iria nos dar problema ou que ele nos faria “mal”. Depois de alguns anos, quem sabe duas décadas e meia, nos deparamos com aparelhos celulares que são computadores de mão, hoje até de pulso com relógios, ou ainda hologramas de altíssima tecnologia, mas que trazem “a profecia” dada pelos nossos antigos de que um dia “esse negócio iria dar algum problema”.
Hoje nossa sociedade vive um momento de reflexão sobre uma tecnologia que trouxe tantos benefícios e ao mesmo tempo tantos desafios. Uma tecnologia que nos colocou o mundo nas mãos, com milhões e milhões de dados e informações e nos fez superficiais em todos eles.
Temos jovens e até mesmo adultos com dificuldades de concentração e de foco, déficits nunca vistos antes, depressões. Nunca em tanta escala como agora. Todos tendo o mundo nas mãos e muito mais informações do que os nossos avós ou até mesmo nós tínhamos quando nos lembramos dos nossos 12, 15 anos. Aqueles que são da geração dos “enta” já podem pensar um pouquinho sobre isso e refletir sobre o momento desafiador que vivemos.
As nossas escolas agora se deparam com a proibição total do uso do celular. Eles não podem entrar na escola com o aparelho. O que antes era a tecnologia, a modernidade nas mãos, hoje nos traz a falta de foco e de comunicação. O vício pelas redes sociais e pelo acesso instantâneo a informações, na maior parte das vezes podem ser extremamente supérfluas, rasas, falando sobre pessoas e relacionamentos. Informações de fontes duvidosas sendo recebidas como verdades incontestáveis, salvo, claro os grandes comunicadores e jornalistas sérios, bem como pensadores da atualidade.
A nossa reflexão baseia-se em como os jovens estão encarando esse momento. Surpreendentemente nós da escola temos visto jovens que, aparentemente, se não estivermos enganados, por estarem utilizando “escondido”, lidaram de uma maneira “obediente” ou mesmo “interessante” com a proibição.
Percebemos adolescentes, crianças e jovens – os teens – conversando mais e tendo até mesmo uma certa “liberdade em poder relacionar-se com o outro”. Uma liberdade que antes era cerceada por um aparelho celular, que todo mundo “deveria”, entre aspas, ter. Pois tê-lo denotava um certo status dentro da “sociedade teen”.
A nossa reflexão é: Os jovens estão mais livres, mesmo estando “dentro” do “não” adulto? Os jovens estão com possibilidade de maior reflexão, interação, podendo conversar mais? Momentos carregados de “adolescência” que há meses atrás não aconteciam devido a um aparelho celular de última geração, ou nem tão moderno assim. Mas que fazia com que eles estivessem inseridos num mundo de “infinitas possibilidades” ou “infinitas conexões”, o que os deixava totalmente ausentes da realidade e das interações humanas, tão necessárias para o amadurecimento emocional de todos nós.
Que possamos nos debruçar um pouco mais no “antigamente” e trazer para nossos filhos e alunos uma sabedoria que nos fez homens e mulheres pensantes, buscando os bons caminhos e seguindo conselhos sábios, mesmo dentro da nossa humanidade gritante. Mesmo dentro de escolhas equivocadas que fizemos, mas numa sociedade que não tinha tantas informações de pronto, como essa juventude tem hoje. Mas mesmo assim conseguia interagir e relacionar-se humanamente muito mais do que a um mês atrás, quem sabe.
Agradecemos então às nossas vovós e mamães e também às autoridades, que tiveram o bom senso da proibição do uso dessa tecnologia necessária, mas que precisava ser cerceada em alguns momentos dos jovens, adolescentes e crianças. Um “viva” à sabedoria “do antigamente”, que unindo-se à ciência do agora trazem um cerceamento que trouxe liberdade e ironicamente – uma liberdade vinda da proibição. Viva à liberdade recheada de não. Viva à possibilidade de dizer não aos ‘nativos digitais’, sem lhes dar muitas explicações.
*Roberta Guimarães é professora, pedagoga, mestre em Educação, MBA em Tecnologias Educacionais e diretora do Colégio Adventista do Taquaral – Campinas