
No Dia da Pessoa Idosa, comemorado nesta quarta-feira, 1º de outubro, o Seminário sobre Longevidade e Qualidade de Vida, realizado no Centro de Convenções da Unicamp, com a participação do reitor Paulo Cesar Montagner na abertura da mesa de debates, reuniu especialistas da área de extensão, alunos do programa UniversIDADE e convidados de instituições nacionais para discutir solidão, solitude, saúde mental e bem-estar na terceira idade. O encontro, com o tema “Solidão ou solitude na velhice: como envelhecer bem?”, destacou a diferença entre solidão e solitude no processo de envelhecimento e buscou fomentar a reflexão sobre o envelhecimento digno, saudável e ativo, uma pauta cada vez mais urgente diante do envelhecimento da população brasileira.

Campinas iniciou, também nesta quarta-feira, 1º de outubro, a programação especial do Mês da Pessoa Idosa, com 28 atividades já confirmadas e outras a confirmar, distribuídas ao longo de outubro em diversos bairros e instituições. A proposta, com o lema “Protagonismo da pessoa idosa: ouvir, valorizar e respeitar”, é ampliar o protagonismo da população idosa e promover espaços de escuta, formação e celebração. Um hotsite foi criado para a mobilização: https://campinas.sp.gov.br/sites/outubrovalorizacaopessoaidosa/programacao.
“Abrir o Mês da Pessoa Idosa com um seminário desse porte é simbólico: mostra que envelhecer não significa perder espaço, mas ganhar voz, reconhecimento e novas oportunidades de viver com qualidade”, destacou Vandecleya Moro, secretária de Desenvolvimento e Assistência Social.
O neurocirurgião Fernando Gomes abordou a “jornada do cérebro 60+”. Em sua apresentação, destacou: “Envelhecer provoca mudanças naturais no cérebro, como redução de volume e diminuição da transmissão sináptica. Isso faz parte da vida, mas não significa perda automática de capacidade. A autonomia anda de mãos dadas com a cognição. Por isso, treinar as pernas é fundamental: atividade física protege o cérebro, preserva a função cognitiva e ajuda a prevenir a demência.”
O professor e médico geriatra Marcos Cabrera defendeu um envelhecimento ativo. Ele lembrou: “A ciência conseguiu alongar o tempo até a chegada ao cemitério. Mas não basta viver mais, precisamos viver bem.” Cabrera complementou a ideia ao afirmar que “Amar aos 70 anos é mais forte do que amar aos 30. O envelhecimento pode ser uma oportunidade de ganhar em afetividade, otimismo e gratidão”.
A programação incluiu o médico intensivista e especialista em gestão de saúde e inovação Rafael Cremonesi, que tratou de autonomia e decisões cotidianas como alicerces para envelhecer com qualidade, ao sustentar que “Um dos segredos para a coisa se inverter do ponto de vista da saúde é o protagonismo” e que “Quem tem que saber como está, e responder, é o próprio idoso”. Para ele, é preciso transparência e responsabilidade pessoal. Cremonesi reforçou que “Não são os outros que têm que fazer; somos nós. Temos que tomar decisões e agir para viver mais e melhor”.
O seminário foi organizado pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (ProEC), com apoio da Diretoria de Extensão (DExt) e do programa UniversIDADE, premiado nacionalmente por suas iniciativas de promoção da autonomia e da qualidade de vida de pessoas idosas.
A coordenadora do programa, Alice Helena De Danielli, conhecida como Leninha, destacou o impacto direto ao afirmar: “O Programa UniversIDADE vem para transformar vidas. Os instrutores são o motor, mas o combustível são vocês, alunos”, e sinalizou continuidade ao registrar “Estamos aqui celebrando a 12ª edição do seminário. É um programa que transforma vidas”.

A urgência de políticas estruturantes apareceu em diferentes falas. O professor Rodolfo de Carvalho Paganhella observou: “O Brasil, desde 2023, tem mais idosos do que jovens. Temos obrigação, como sociedade, de desenvolver políticas públicas para essa população”, e amarrou o propósito do UniversIDADE ao dizer: “O grande objetivo é oferecer autonomia emocional, social e financeira”.
Karla Borghi, presidente do Conselho Municipal do Idoso, sublinhou a centralidade do protagonismo ao afirmar: “Precisamos dar protagonismo para a pessoa idosa. O Estatuto da Pessoa Idosa já tem 22 anos, mas ainda estamos correndo atrás”, e dimensionou o desafio local ao lembrar: “Campinas tem mais de 200 mil idosos, é como se tivéssemos uma Indaiatuba dentro da cidade. O desafio é dar qualidade de vida a essa população”.
A área da saúde trouxe inquietações e caminhos. A Dra. Sara Sgobin, da Secretaria de Saúde de Campinas, afirmou “Durante muito tempo acreditávamos que a saúde mental do idoso estava ligada ao medo da finitude. Mas o verdadeiro desafio é viver numa sociedade que muitas vezes nos enxerga como se estivéssemos apenas esperando a morte”, de modo que a pergunta orientadora passa a ser: “Como respeitamos e criamos vínculos nessa nova etapa da vida? Esse é o nosso grande aprendizado”.
O Prof. Dr. Rubens Bedricoff, na perspectiva universitária, resumiu o papel transformador da extensão ao afirmar: “A extensão universitária é um processo de dupla mão: a universidade transforma, mas também é transformada pelo saber que vem de fora”, e completou a ideia ao dizer “Quando a universidade ouve a sociedade, muda seus temas de pesquisa, muda sua forma de ensinar. É isso que torna o Programa universIDADE tão especial”.
Outras atividades
A programação do mês segue com atividades em todas as regiões. O Sarau da Pessoa Idosa: Vez e Voz, programado para o dia 31, será outro destaque com a participação de grupos de toda a cidade, e a cerimônia de entrega do selo “Morada Legal” ocorrerá ao longo de outubro, sendo concedida às Instituições de Longa Permanência que se destacam pela qualidade do atendimento, pela estrutura e pelo cuidado às pessoas idosas.
Campinas fortalece, paralelamente às atividades pontuais do mês, políticas permanentes de proteção, acolhimento e valorização. O município soma mais de 209 mil pessoas com 60 anos ou mais, o que corresponde a 18,4% da população, e investe em ações que combinam proteção social, atendimento em saúde e promoção de um envelhecimento ativo e digno.
A rede protetiva reúne CRAS e CREAS, com acompanhamentos de média e alta complexidade, o Centro Dia da Pessoa Idosa (COF), dedicado à convivência, e o Serviço de Proteção Especial no Domicílio, executado pelo CEI. O Conselho Municipal do Idoso (CMI) atua na defesa de direitos em parceria com o Ministério Público.
A Prefeitura criou, em abril deste ano, o Selo Morada Legal, uma certificação que reconhece instituições de longa permanência que cumprem normas legais, sanitárias e de infraestrutura, reforçando a confiança das famílias e combatendo estabelecimentos clandestinos. Para responder à demanda crescente, o município ampliou em 54% o número de vagas municipais em ILPIs desde 2022 e, hoje, são 200 vagas financiadas via convênios com organizações da sociedade civil, com investimento superior a R$ 4,3 milhões provenientes de fundos municipais.