Há algum tempo tive um inusitado encontro. Foi um encontro comigo mesmo.
Explico: por orientação médica, em decorrência de uma crise de diverticulite, me prescrito realizar uma tomografia computadorizada. Com o devido preparo e um misto de preocupação e nervosismo, fui levado para a sala de radiologia, localizada num local isolado com as necessárias barreiras protetoras e blindagem que integram um projeto de segurança radiológica de modo a propiciar a devida proteção aos profissionais que realizariam o exame.
Na sala isolada, fui colocado no moderno tomógrafo, monitorado de uma cabine externa. Da sala de comando o acesso era apenas por uma pequena janela brindada. O contato que eu tinha com o mundo exterior se dava por meio de uma voz que me orientava acerca dos procedimentos a serem seguidos para a realização do exame com êxito. Na verdade, era o exterior quem mantinha contato comigo porque eu nem mesmo via a janela.
Quando constatei esse fato, senti-me verdadeiramente sozinho. Éramos eu e Deus! Menos que isso, eu me encontrava comigo mesmo, mais precisamente com minha consciência.
Como um trailer, um rápido filme passou em minha mente.
Lembrei-me de coisas e fatos da minha infância. Da alegria dos passeios com toda a família, dos cafés no meio da tarde com meus irmãos e minha mãe, do jantar com toda família reunida na pequena mesa da cozinha. Revivi a alegria dos nossos Natais e do esforço que meu pai e minha mãe faziam para pagar em longas parcelas os brinquedos e roupas novas que o “papai noel” trazia para mim e meus irmãos. Quanta saudade!
Lembrei-me da família que constitui… De minha mulher, sempre parceira em minhas aventuras, e de nossa filha, verdadeiro presente que Deus nos enviou e que fez e faz de nós pessoas melhores.
Lembrei-me de meus inúmeros amigos e da generosidade deles para comigo, relevando minhas faltas e valorizando minhas poucas virtudes. Também me lembrei de meus eventuais desafetos, felizmente não muitos, mas que de fato são também meus amigos – talvez os melhores – porque apontam meus defeitos e, com isso, mostram-me o quanto eu ainda tenho para aprender e melhorar.
Mas, nesse encontro, que não foi dos longos, mas muito intenso, pude perceber claramente como Deus tem sido generoso comigo, propiciando-me plenas possibilidades para enfrentar as dificuldades da vida e muitos momentos de alegria.
Enfim, nesse encontro comigo mesmo pude perceber claramente que o homem é muito pequeno na grandeza da Criação e que, em nossos atos e atitudes, nós devemos sempre nos lembrar dos eternos princípios evangélicos tão bem exemplificados pelo divino Mestre Jesus, pois nesse processo de educação e equilíbrio que cada existência a nós propicia devemos lapidar a pedra bruta que cada um de nós é sob pena de nos afastarmos de Deus.
Paulo Eduardo de Barros Fonseca é vice-presidente do Conselho Curador da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho, mantenedora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.