Iniciado em 2015, o Setembro Amarelo é uma campanha de prevenção ao suicídio, que tem como uma de suas principais causas a depressão. A doença atinge mais de 300 milhões de pessoas segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e tem entre seus sintomas o humor triste, sentimento de desesperança ou culpa, perda de interesse pela vida e diminuição de energia. Diante deste cenário, ao serem diagnosticados, muitos indivíduos acreditam que a única alternativa é tratar com medicamentos. O que eles desconhecem, porém, é que a atividade física serve como um importante aliado no combate.
Nos últimos anos, descobertas científicas comprovaram que a prática de atividades físicas regulares tem efeito antidepressivo. Isso porque ao realizar exercícios, o organismo libera dois hormônios essenciais para auxiliar no tratamento: a endorfina, conhecida como hormônio da alegria, por promover sensação de bem-estar, euforia e alívio de dores, e a dopamina, que tem efeito tranquilizante e analgésico. Há ainda o benefício da regularização do cortisol, que quando está baixo, pode colaborar para um quadro depressivo.
Ainda tratada com tabu, a depressão atinge pessoas de qualquer idade e condição financeira, como a fisioterapeuta do Instituto Mood, Michele Sanches Padere. Em 2017, ela teve uma crise de pânico no trabalho quando estava atendendo um cliente, o que causou coração acelerado e uma vontade imensa de chorar. Michele então se consultou com um psiquiatra no dia seguinte e foi diagnosticada com síndrome do pânico, depressão grave e transtorno de ansiedade.
“Eu acordava todo dia muito mal, é uma situação que você fica péssimo, só quer morrer. Quando abre o olho pensa ‘por que ainda estou vivo?’, pensa em suicídio. Minha família e duas amigas foram essenciais na minha recuperação. Minha amiga me ligava todos os dias e eu só ouvia, não falava nada, mas ela ligava diariamente. Isso foi importante porque eu sentia que as pessoas se importavam comigo”, conta.
Michele começou o tratamento com medicamentos e terapia, que foram importantes para despertar a vontade de praticar atividade física. Depois de tentar – e não gostar do ioga – ela fez boxe e percebeu que precisava de uma atividade intensa, que gerasse mais gasto calórico. “Comecei a cansar meu corpo e descansar a mente. Aí fui melhorando”, explica.
Os estudos na área indicam que os melhores exercícios físicos no combate da depressão são os aeróbicos. Entretanto, conforme destaca o educador físico Ederson Venâncio Lisboa, é preciso encontrar a atividade que você mais se adapte, já que são muitas opções como musculação, natação, caminhada, pilates e treino funcional.
O principal objetivo ao montar o plano de treino de uma pessoa que esteja com quadro de depressão é trazer bem-estar, estimular o autocuidado e traçar novas metas juntamente com a pessoa. “Tive um aluno que entrou com um caso de depressão e ansiedade. Ele sempre trabalhou muito e acabou se aposentando, aí veio a depressão, porque não sabia mais o que fazer. Por indicação do psicólogo procurou uma atividade e optou pela musculação. Pela musculação ser um pouco mais parada, eu me preocupava em deixar ele sempre em movimento, utilizando algumas técnicas de treino. Chegou um ponto em que ele cortou a medicação e terapia, ficando somente com o exercício”, disse o professor do Instituto Mood.
Por fim, Ederson ressalta que a preocupação com um cliente com quadro depressivo é maior do que com um cliente sem a doença. “Sabemos do problema, então estamos sempre auxiliando, participando da vida. Às vezes a gente até brinca que trabalha um pouco como psicólogo, porque escuta bastante, conversa muito… Além disso, considero fundamental que o educador físico esteja em contato com o terapeuta, trabalhando em conjunto.”