Lidar com a passagem do tempo demanda sabedoria. Como administrar a experiência adquirida em um corpo que já não responde mais aos impulsos da mente? Essa vertente de raciocínio é uma das portas de entrada para o filme “Projeto Gemini”, dirigido pelo competente Ang Lee e protagonizado pelo sempre carismático Will Smith.A história do atirador de elite de 51 anos que tem como adversário uma versão de si mesmo três décadas mais jovens cativa. Está ali a luta do velho contra o novo, o que não traz algo inaudito. O que encanta é que o homem experiente que deseja se aposentar tem que enfrentar a si mesmo. E não é fácil atuar contra aquilo que se conhece bem só que mais vigoroso e sem contradições internas, como o remorso, que pode tirar a concentração.Há um fascínio enorme em acompanhar a disputa entre o matador que questiona as suas ações passadas – e tem consciência que a extrema habilidade no que faz o afastou dos papéis sociais de marido e pai – e o jovem que apenas sente que o seu maior prazer está justamente em realizar assassinatos por encomenda.Além de impressionar pelos efeitos digitais nas cenas de ação e na reconstituição do jovem Will Smith, o filme traz indagações importantes para uma sociedade que valoriza a juventude e o cumprir metas. Nesse aspecto reflexivo, o diálogo entre os dois matadores (o velho e o jovem), em Budapeste, numa cripta decorada com crânios e ossos, alegoriza justamente os dilemas da inefável passagem do tempo… e da morte que se aproxima inevitavelmente.Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. |