Uma parcela dos pais e responsáveis pelas crianças e adolescentes que passam por atendimento médico chega às consultas com a ideia que é necessária a solicitação de exames específicos durante o atendimento. Na maioria das vezes são de imagem, como raio-x e tomografia, principalmente no pronto-socorro.
A realização desnecessária de exames radiológicos é preocupante porque, em excesso, pode causar mutações genéticas em organismos ainda em desenvolvimento, podendo causar doenças como o câncer devido à exposição aos componentes radiológicos. De acordo com um estudo conduzido pela Universidade de Newscastle, na Grã-Bretranha, crianças que se submetem a muitos exames de tomografia computadorizada têm um risco três vezes maior de desenvolver câncer no cérebro ou leucemia.
Atribuo esses pedidos de exames à facilidade de acesso para a pesquisa de sintomas, doenças e tratamentos na internet, popularmente conhecido como consulta ao “Dr. Google”. Essa prática, muitas vezes referida no próprio consultório, está crescendo e tomando proporções preocupantes. É natural que as pessoas se interessem pelos seus sintomas, o problema é quando não possuem elementos de interpretação e passam a acreditar que sabem o diagnóstico. No caso, o médico é apenas o meio obter a confirmação da doença que os pais acreditam ter descoberto em seus filhos.
Essa prática é prejudicial à relação médico-paciente e acredito ser reflexo da incompreensão do raciocínio clínico utilizado ou até mesma de uma quebra de confiança que possa ter acontecido em algum momento da vida do paciente, por isso considero fundamental explicarmos como é o processo de diagnóstico.
O primeiro passo é a anamnese, uma conversa para entender qual é a principal queixa, os sintomas associados, alterações no organismo e quando começaram. Também são questionados antecedentes pessoais como doenças crônicas, tratamentos medicamentosos e alergias a medicamentos.
Após essa etapa, o médico realiza o exame clínico para tentar encontrar elementos que o direcionem para um diagnóstico. Quando esses passos não são suficientes para se chegar a uma conclusão clínica, são solicitados exames como forma de complementar essas informações para se chegar a uma conclusão. É preciso o entendimento de que os exames são ferramentas complementares e, sozinhos, não são a resposta. Eles são extremamente úteis, mas apenas o profissional médico tem a pertinência, o conhecimento e a segurança para saber quando e se precisam ser solicitados, como no caso dos exames radiológicos, em que é preciso avaliar o benefício versus os potenciais riscos.
É preciso reforçar que exames como raio-X e tomografia são seguros quando tem sua indicação indispensável para o diagnóstico e conduta final. A grande questão é a sua realização excessiva e sem indicação, que aumenta o risco às crianças e adolescentes sem benefícios propriamente ditos. Médicos, uma boa conversa e um atendimento humanizado fazem a diferença e ajudam na construção da relação médico com o paciente. Pais e responsáveis, confiem no conhecimento do especialista.
A melhor maneira de impedir que a saúde de pacientes, principalmente os mais jovens, seja colocada em risco por conta da realização de procedimentos desnecessários, é manter um acompanhamento ambulatorial em que se estabeleça uma relação saudável entre o médico e a família do paciente, de forma rigorosa, com seguimento regular, tornando-se possível prevenir e tratar as doenças com maior profundidade e melhor assistência e prevenção em longo prazo.
*Dra. Silvana Vertematti é pediatra do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), principal unidade do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual./Imagem Divulgação