Usamos muito a palavra perdão sem refletir amplamente sobre os seus significados mais amplos. Compreender amplamente o termo demanda um exercício muito difícil no cotidiano e, ainda mais, em situações extremas. Para motivar esse questionamento, o filme australiano “Jirga” coloca o espectador perante uma encruzilhada existencial.
O diretor Benjamin Gilmour dá ao ator Sam Smith a oportunidade de um excelente desempenho no papel de um soldado australiano que, três anos após ter matado um homem em um vilarejo do Afeganistão, volta para pedir perdão à família. Trata-se de uma jornada pessoal de recuperação da dignidade de pertencer à raça humana.
Filmado no Afeganistão, em uma das regiões mais perigosas e violentas do mundo, que convive com uma mescla de ações de soldados ocidentais e de radicais do Taliban que afetam cidadãos e trabalhadores comuns, o filme tem seu ápice na cena em que o militar arrependido é julgado pela Jirga, conselho de anciãos.
Antes do clímax, sabemos que o morto fora um músico e vemos o soldado pedindo perdão à viúva. O conselho decide então delegar ao filho dela a decisão de cortar o pescoço do julgado ou perdoar. São apresentados argumentos pró e contra a redenção. E, quando o menino decide pelo perdão, fica evidente que aquilo que nos humaniza e nos afasta da barbárie é a bondade.
Fonte: Oscar D’Ambrosio – jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.