Jornal de Campinas

Doenças das válvulas cardíacas alcançam diagnóstico precoce e tratamentos menos invasivos

Procedimento TAVI ao inserir uma nova valvula artificial atraves de um cateter Divulgacao

Procedimento TAVI ao inserir uma nova válvula artificial através de um cateter/Divulgação

As doenças cardiovasculares representam uma das principais preocupações de saúde pública, exigindo atenção contínua à prevenção e ao diagnóstico. Entre essas condições, a estenose aórtica merece destaque pela sua relevância e pelo impacto significativo que pode ter na qualidade de vida de muitas pessoas. Caracterizada pelo estreitamento da válvula aórtica do coração afeta, principalmente, a população idosa, com uma incidência que pode chegar a 2-3% em pacientes acima de 65 anos*. Quando não tratada, a estenose aórtica pode levar a sintomas graves como falta de ar, dor no peito e desmaios, comprometendo significativamente a rotina e a expectativa de vida.
De acordo com o Dr. Eloy da Costa, cardiologista intervencionista da PUC Campinas, a estenose aórtica se manifesta de duas formas principais: “pode ser uma condição crônica progressiva, com predisposição congênita ou reumática, ou, mais comum, ser adquirida com o tempo, resultado do envelhecimento e da calcificação da válvula”. Ele esclarece que, embora fatores de risco como hipertensão, diabetes, obesidade e tabagismo possam acelerar o processo de calcificação, uma vez que a doença se estabelece, não existem evidências clínicas de que mudanças de hábitos ou medicamentos consigam frear sua progressão.
“Apesar de não identificarmos dados concretos da incidência da doença no Brasil, o relatório “Estatística Cardiovascular – Brasil”, de 2023, traz dados sobre a doença valvar aórtica calcifica não reumática (associada à estenose) que indica que no Estado de São Paulo, a taxa por 100 mil habitantes é de 34,97. Sendo essa prevalência um pouco acima da média nacional, que é de 31,78”, aponta o médico.
O diagnóstico da estenose aórtica geralmente começa com a suspeita clínica, baseada nos sintomas que o paciente apresenta. A confirmação é feita por um ecocardiograma. Este exame permite ao médico visualizar a válvula aórtica, verificar seu funcionamento, medir o grau de estreitamento e avaliar como o coração está sendo afetado pela doença.
Felizmente, os avanços da medicina trouxeram uma revolução no tratamento dessa doença. Tradicionalmente, a substituição da válvula aórtica exigia uma cirurgia cardíaca aberta, um procedimento de grande porte que envolve a abertura do tórax do paciente. No entanto, o surgimento do Implante Transcateter de Válvula Aórtica, conhecido como TAVI, mudou completamente esse cenário.
“O TAVI tornou possível tratar pacientes idosos que não tinham opção cirúrgica. Em vez de uma cirurgia aberta de grande porte, inserimos uma nova válvula artificial através de um cateter, o que torna o procedimento minimamente invasivo. Este procedimento reduz o tempo de recuperação e melhora muito a qualidade de vida do paciente, sendo hoje uma terapia consagrada também para perfis de risco intermediário e até baixo”, detalha Dr. Eloy.
Indicação e acesso no Brasil A durabilidade da prótese e a rápida recuperação são pontos cruciais que conectam o TAVI à longevidade e à sustentabilidade do sistema de saúde. Estudos e a experiência clínica têm demonstrado que as próteses implantadas com TAVI possuem uma durabilidade comparável às válvulas cirúrgicas, com resultados promissores a longo prazo. Ao permitir que os pacientes retornem rapidamente às suas atividades, o TAVI contribui para uma vida mais ativa, com mais qualidade e independência.
Apesar disso, o Dr. Rogério Sarmento, Presidente da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI) explica que a indicação de cobertura do TAVI pelos planos de saúde no país é restrita a pacientes com 75 anos ou mais, que apresentam alto risco para a cirurgia cardíaca aberta. Pacientes fora desse perfil, mesmo com indicação médica, muitas vezes recorrem a medidas judiciais para ter acesso ao tratamento. “O procedimento também já está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), mas apenas para pacientes de alto risco cirúrgico. O maior desafio, entretanto, não é a falta de infraestrutura — hoje temos dezenas de hospitais capacitados em todo o Brasil —, e sim a ausência de financiamento adequado. O valor de reembolso previsto atualmente pelo SUS é inferior ao custo real do procedimento, o que acaba limitando a ampliação do acesso”, esclarece.
Referência:
*1. Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Diretriz Brasileira de Valvopatias – 2020. Arq. Bras. Cardiol. 2020;115(5):720–775. 

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