Arquitetura histórica enfrentou as três últimas grandes epidemias que abalaram a cidade
O prédio que abrigou a antiga Casa de Saúde, na região central de Campinas, e que hoje é ocupado pelo Vera Cruz Casa de Saúde, completa 140 anos. O edifício, marcado por sua bela arquitetura, fez parte de alguns dos momentos mais desafiadores da história: depois de funcionar como colégio e centro de acolhimento de imigrantes italianos em 1889, a cidade foi surpreendida pela chegada da febre amarela que, em 1896, reapareceu deixando centenas de vítimas. Duas décadas depois, em 1918, o edifício acolheu vítimas da gripe espanhola. Desde março do ano passado, o atual Vera Cruz Casa de Saúde mantém um espaço dedicado ao atendimento às vítimas do novo coronavírus: em 12 meses, mais de 20 mil pessoas foram atendidas. “Um hospital completo e respeitado nacionalmente. Tive a oportunidade de acompanhar a modernização do hospital ao longo destas cindo décadas de atividade”, conta o médico radiologista José Michel Kalaf. O especialista iniciou suas atividades em agosto de 1966. “Na época, encontrei um serviço modesto de raio-x e, ao longo dos anos e com respaldo do corpo clínico e das diretorias administrativas, criamos um departamento de imagem moderno com ampla capacidade em atendimento qualificado para esta especialidade”, relembra.
Melhorias
Em maio de 2019, o Vera Cruz abriu uma nova unidade no prédio, o Vera Cruz Casa de Saúde, e de imediato instituiu melhorias em toda a estrutura física, recuperando e ampliando leitos, além de novo pronto socorro, centro cirúrgico, central de esterilização, novas salas para atendimento especializado, treinamento de todo o corpo técnico, enfermagem e administrativo para o processo de atualização operacional de um moderno hospital. Atualmente, médicos especialistas nas várias áreas compõem seu corpo. “Ética, capacitação e respeito à vida. Permanecemos buscando, nesses dois anos de gestão, uma evolução constante, além de excelência de serviços e valorização humana de pacientes e profissionais”, afirma Erickson Blun, diretor-presidente do Vera Cruz Hospital.
Vocação para a saúde
A associação que deu origem à antiga Casa de Saúde Campinas, chamada Circolo Italiani Uniti, foi fundada em 17 de Abril de 1881 com o objetivo de atender às necessidades educacionais dos filhos de imigrantes italianos e servir como Casa de Caridade e Centro Cultural para a comunidade ítalo-brasileira de Campinas. O edifício foi idealizado por Samuele Malfatti e contou com a colaboração do renomado engenheiro-arquiteto Ramos de Azevedo, cujas obras, segundo a professora da PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas) Ana Paula Farah, fizeram parte do processo de modernização de São Paulo. “Se trata de um edifício de linguagem eclética e técnica construtiva em alvenaria de tijolos. A implantação do edifício é uma proposição espacial típica das construções de ensino do final do século XIX.”
“A beleza arquitetônica do edifício impressiona, bem como o projeto com funcionalidade ímpar para adequado funcionamento hospitalar. Há qualidade arquitetônica, estética e urbanística, com interação ao ambiente urbano”, reforça o médico radiologista.
Para Caio André Moises de Lima, um dos principais médicos da linha de frente no combate à Covid-19 e coordenador da Clínica Médica do Vera Cruz Casa de Saúde, a inclinação por grandes pandemias está no DNA do hospital. “Muitas vezes, viajamos para lugares como a Europa para encontrar construções como essa. Hoje é dia de valorizar cada espaço do prédio, devidamente conservado e que carrega uma longa jornada de luta, mas também de cura. Esse prédio viveu outras pandemias e estar vivendo o momento que estamos não é uma coincidência, é uma vocação. É muito gratificante fazer parte da história”, afirma.
Modernidade com tradição
Para comemorar os 140 anos do prédio histórico, o hospital realizou, na última sexta-feira (16), uma cerimônia intimista para celebrar a importância do local para Campinas. “A Casa de Saúde foi um dos hospitais de maior história da nossa cidade. Foi e é fundamental para o desenvolvimento e avanço da medicina na região”, disse o prefeito de Campinas, Dario Saadi, que também é médico urologista e atuou na Casa de Saúde como médico residente e, depois, como integrante do corpo clínico de 1988 a 2019.
O evento contou com as presenças do diretor Renan Rezende e do diretor técnico Bruno Araújo, ambos do Vera Cruz Casa de Saúde, além de Erickson Blun. Participaram ainda a cantora campineira Catarina Neves, de 82 anos, uma das finalistas da primeira edição do The Voice Brasil Sênior (The Voice+), e o saxofonista Hilquias Alves.