Pesquisadores da Unicamp/Foto: Felipe Christ
Neste ano, a TV Brasil da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), rede de televisão pública aberta do país, irá se adequar a um novo modelo de transmissão que possibilita imagens e áudios em alta definição e maior interatividade com o público: o sinal de TV digital. Nesse processo, a EBC contará com uma tecnologia desenvolvida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e licenciada com apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp pela empresa Anywave Communication Technologies.
Através da sua representante comercial, a Phase, a binacional com sede nos Estados Unidos e na China, ganhou a licitação para fornecer os transmissores de sinal digital à EBC com o algoritmo da Unicamp. Uma das vantagens da tecnologia licenciada sem exclusividade para a empresa é a possibilidade de embutir aos transmissores de sinal a função de compressão e descompressão de dados enviados para os satélites. Assim, as emissoras poderão ocupar menos banda sem queda de qualidade do conteúdo, como explica um dos inventores da tecnologia, Cristiano Akamine, ex-aluno da Unicamp e coordenador do Laboratório de TV Digital da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Segundo ele, um dos problemas para a popularização do sinal de TV digital no Brasil é o custo da distribuição para as emissoras. Isso porque é necessário usar alguns MHz de banda no transponder de um satélite que distribuirá o sinal para todos os transmissores no território nacional. Por serem sinais em alta definição, eles ocupam mais banda e custam mais. Diante desse problema, em sua pesquisa de doutorado na Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação da Universidade Estadual de Campinas (FEEC) com orientação do professor Yuzo Iano, o inventor colaborou junto a um grupo com o desenvolvimento da metodologia de remultiplexação de sinais.
“Uma forma de diminuir esses custos é comprimindo os dados antes de os enviar ao satélite. As antenas parabólicas que recebem os sinais vão descomprimir os dados antes de os enviar para transmissores de TV digital, de modo similar ao que ocorre em arquivos de computador, com os formatos ZIP e RAR. Nossa metodologia faz isso, mas exclusivamente para a transmissão de sinal de TV digital no modelo usado no Brasil”, explica Akamine.
Expansão do sinal digital no mercado brasileiro
O Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre é uma versão modificada do padrão japonês Integrated Services Digital Broadcasting – Terrestrial (ISDB-T). Denominado ISDB-TB, esse sistema foi adotado também por outros países da América Latina e da África. O mercado brasileiro tem, porém, uma particularidade à qual as fabricantes de transmissores tiveram que se adaptar: a necessidade de habilitar a descompressão para abrir o sinal de TV digital enviado. É o que explica Sérgio Abramoff, diretor regional da Anywave Communication Technologies, que licenciou a tecnologia de descompressão de dados da Unicamp.
“Já tivemos que adaptar o transmissor por causa do padrão usado no Brasil, diferente dos usados nos Estados Unidos e na China. Mas há também a necessidade de os transmissores adquiridos descompactarem os dados que algumas emissoras brasileiras compactam, por ser mais barato no uso do satélite, o que não é comum em outros países que atendemos”, explica.
De acordo com Abramoff, a empresa licenciada tem forte atuação em projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) nos Estados Unidos e na China. Mas para resolver a demanda do mercado brasileiro foi mais vantajoso licenciar a tecnologia da Unicamp. Existem várias formas de codificar o sinal para comprimir os dados e, se a emissora usou uma chave de compressão de dados, é necessário usar a mesma chave na descompressão. A diferença do algoritmo da Unicamp em relação a outros métodos é que se trata de uma “chave universal”, isto é, ela permite a abertura do sinal independente da forma que os dados foram comprimidos.
“Ao optarmos pelo licenciamento dessa patente da Unicamp, otimizamos uma tecnologia que já está madura. É um algoritmo já testado, e que funciona bem para todos os padrões de compressão usados no Brasil. Isso poupou à Anywave tempo e recursos financeiros, pois não houve necessidade de desenvolver seu próprio algoritmo para atender uma demanda nos transmissores vinda de algumas emissoras que já comprimem os dados para minimizar custos”, justifica Abramoff.
A patente da metodologia já foi concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) para a Unicamp, com apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp, o órgão responsável pelo licenciamento não exclusivo da tecnologia às empresas interessadas. Para conhecer esse método da Unicamp e outras soluções, acesse o Portfólio de Tecnologias da Unicamp.