Pura magia. Esta expressão é a que melhor define o filme “A Boy Called Sailboat” (“Um menino chamado veleiro”, numa tradução livre”). A narrativa se passa entre uma família mexicana em peno deserto dos EUA. Personagens bizarros, cada qual com sua mania, descobrem algo em comum: o som produzido pelo instrumento de uma criança.
O menino descobre, por acaso, uma espécie de guitarra, a ukelele, pela qual se apaixona. Seu pai é fissurado por cavalos; a mãe faz almôndegas divinas; e o irmão, que precisa usar colírio constantemente pois não consegue piscar, é fanático por futebol. E eles moram numa casa prestes a desmoronar ameaçada por insetos que devoram madeira.
E quem motiva o dom do musical do menino é a avó, uma senhora latina que pronuncia breves frases de efeito plenas de sabedoria sobre o que é importante na vida. Com a perspectiva de fazer uma música para ela, Sailboat (nome simbólico para uma criança que mora no deserto) gera uma melodia que encanta a todos os personagens.
O significativo é que essa dádiva musical nunca é revelada pelo filme. Vemos apenas o efeito que ela causa em todos, do professor excêntrico com câncer aos funcionários da emissora de rádio local e aos alunos e pais da escola em que Sailboat estuda. É a música que une a todos. Com cores baseadas na bandeira mexicana, o diretor australiano Cameron Nugent fez uma meiga obra-prima sobre as dificuldades do existir. Não deixe de ver!
Autor: Oscar D’Ambrosio, jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e pós-doutorando e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.