Dr. Paulo Eduardo Pizão, oncologista/Foto: Matheus Campos
O sistema imunológico protege o organismo de patologias e entra em defesa do corpo quando ele é invadido por vírus e bactérias. No caso do câncer, as células malignas não são reconhecidas e atacadas pelo sistema imunológico por falha ainda não completamente conhecida pela ciência.
Há muito se ouve que a solução para o câncer virá da imunologia. É uma promessa não consolidada. Os estudos caminham para isso e a oncologia de precisão é uma demonstração desse avanço.
Sabe-se que o câncer tem algumas peculiaridades e uma delas é “fugir” do sistema imunológico. O resultado das pesquisas trouxe medicações, técnicas e tratamentos que revertem essa capacidade do câncer escapar.
“Camuflagem”
Há fármacos que incluem entre os mecanismos de ação a remoção dessa “camuflagem” do câncer. A administração dessa alternativa é entendida pelo paciente como uma terapia diversa à quimioterapia.
A quimioterapia age diretamente na célula do câncer e o medicamento imunoterápico atinge a célula do câncer através do sistema imunológico.
Uma das vantagens da imunoterapia é que o efeito perdura no organismo. É como se o corpo gerasse uma memória que continuasse a sua ação depois da aplicação. Diferente da quimioterapia, que cessa a ação quando o remédio para de ser ministrado.
Glóbulos brancos
Outra modalidade muito importante e promissora da imunoterapia é coletar as células do sistema imunológico do paciente responsáveis pelo ataque ao câncer. São chamadas de linfócitos. Essa retirada é um desafio, pois é necessário coletar as células certas, porque os linfócitos pertencem a um grupo diversificado de glóbulos brancos.
Transferência de genes
Por meio da engenharia genética, é possível manipular em laboratório os linfócitos retirados do paciente conferindo-lhes novas propriedades. Isso é possível transferindo para os linfócitos novos genes. Graças a isso, é como se o glóbulo branco passasse a reconhecer o “endereço ou CEP” do tumor, de forma mais precisa.
As células que receberam o gene que identifica o tumor podem ser multiplicadas em bilhões no laboratório e reinjetadas no paciente. Por isso o nome terapia celular.
Uma dificuldade desse tratamento é a logística. A maioria dos laboratórios para preparação e transferência dos linfócitos está fora do Brasil. Um segundo obstáculo é se o paciente mora longe dos grandes centros onde existem hospitais credenciados para terapia celular. Todo esse processo leva semanas. E esse período estendido, para um paciente com câncer, faz muita diferença. Além do processo da extração e da reinjeção das células no organismo, o paciente precisa estar perto dos centros porque está sujeito a reações inflamatórias que geram bastante incômodo e precisa ser hospitalizado em instituição especializada devido a esse tipo de efeito colateral.
São dificuldades que estão sendo equacionadas e não representam obstáculos intransponíveis. Os resultados continuam cada vez mais promissores.
Sobre o Dr. Paulo Pizão
O oncologista Dr. Paulo Eduardo Pizão é um profissional global. Por ser docente em faculdade, gestor em instituições de saúde, atuar no atendimento clínico e por ter sido pesquisador na indústria farmacêutica, tem uma visão geral do setor e conhece o mecanismo desse segmento.
Atividades profissionais atuais:
Coordena a equipe médica da Oncologia Vera Cruz Hospital; é pesquisador no Centro de Pesquisa Clínica São Lucas (PUC-Campinas) e coordena a disciplina de Oncologia Clínica no Curso de Medicina da Faculdade São Leopoldo Mandic, Campinas-SP.
Especializações:
Especialista em Oncologia Clínica pela Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO); Especialista em Cancerologia (Oncologia Clínica) pela Associação Médica Brasileira; PhD em Medicina (Oncologia) pela Universidade Livre de Amsterdam, Holanda.