Cesta de frutas/Divulgação
Por Renato Francischelli*
A produção mundial de frutas e hortaliças atingiu níveis elevados na última década e alcançou cerca de 2,1 bilhões de toneladas em 2023, de acordo com os dados mais recentes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Esse volume é representativo para a segurança alimentar pela contribuição direta à saúde das pessoas e pelo papel econômico em cadeias de renda e emprego.
Não é segredo que o consumo de frutas, legumes e hortaliças é a chave para uma alimentação saudável porque esses vegetais concentram vitaminas, minerais, fibras e compostos bioativos que ajudam a prevenir doenças crônicas, fortalecer o sistema imunológico e manter o bom funcionamento do organismo. Consumir esses alimentos representa equilíbrio nas mais diversas interpretações.
No Brasil, o setor hortifrúti é significativo para abastecimento interno, renda rural e também para exportações em nichos. Em 2023, a área ocupada por hortifrútis no Brasil foi estimada em torno de 507 mil hectares e, no ano seguinte, as exportações de frutas chegaram a cerca de 1,03 milhão de toneladas, com receita de US$ 1,2 bilhão, segundo levantamentos setoriais.
O Brasil tem como vantagens a grande diversidade climática e sazonalidade complementar entre regiões, que permitem oferta prolongada de frutas, verduras e legumes ao longo do ano. Possui ainda sólida base de pesquisa e cadeias de fornecedores bem desenvolvidas para insumos e máquinas.
Mas há muitos desafios que os fruticultores enfrentam anualmente, a cada plantio, colheita e distribuição. Os principais deles são mudanças climáticas e variação meteorológica; água e recursos naturais disponíveis; ameaças de pragas, doenças e perdas pós-colheita; gargalos em infraestrutura e logística; acesso a capital para investimentos; mão de obra e profissionalização; regulação, segurança e confiança do consumidor.
As alterações no padrão de temperatura, eventos extremos e maior incidência de secas ou inundações afetam diretamente produtividade, calendário de safra, ciclo de pragas e doenças. Hortaliças, em especial folhosas e culturas de ciclo curto, enfrentam maior pressão de pragas e doenças associadas a climas mais quentes e úmidos. Isso exige adaptação rápida em manejo.
Hortifrútis também exigem eficiência hídrica e técnicas que reduzam perdas, entre elas irrigação de precisão e manejo de solo. O produtor precisa ainda lidar com as perdas pós-colheita, que continuam altas para frutas e hortaliças. Transporte refrigerado, câmaras frias e a logística da última milha, que é a etapa final da cadeia de distribuição, do distribuidor ao cliente, são gargalos especialmente para atender a centros urbanos e mercados de alto padrão.
O acesso ao crédito para garantir melhor produtividade é outro desafio para o agricultor, assim como mão de obra qualificada. Há ainda a necessidade de garantir alimento seguro, o que envolve monitoramento regulatório, fiscalização e transparência. No Brasil, agências e órgãos públicos divulgam resultados de monitoramento e relatórios sobre comercialização, evidenciando a necessidade de vigilância e de boas práticas agrícolas.
No futuro de agora e dos próximos anos, os investimentos em tecnologia e infraestrutura serão determinantes para a competitividade do agronegócio brasileiro. Para enfrentar os desafios, o setor de hortifrúti tem investido, e terá que investir cada vez mais, em proteção do ambiente produtivo, irrigação precisa, sensores, variedades melhor adaptadas, digitalização, agricultura de precisão, manejo integrado de pragas, logística inteligente e cadeias curtas de distribuição.
Nesse processo, os defensivos desempenham papel histórico e prático na proteção de lavouras. Para hortifrútis, que são sensíveis a ataques e têm valor agregado alto, a proteção fitossanitária é frequentemente crítica para viabilizar a produção comercial e as exportações. Usados com critérios técnicos, sob regulação rigorosa e combinados com alternativas, são essenciais para garantir alimentos suficientes, seguros e produzidos de forma mais sustentável.
Portanto, garantir segurança alimentar num mundo que passa por muitas mudanças exige que o setor de hortifrútis evolua em duas frentes. A primeira é modernizar e adaptar a produção com tecnologia, cultivares e infraestrutura. A segunda é adotar práticas e regulações que reduzam impactos ambientais e garantam alimentos seguros.

*Renato Francischelli é Country Director da Ascenza Brasil e engenheiro agrônomo, atuando no setor de defensivos agrícolas desde 1986. Atuou por muitos anos na Bayer, onde começou como agrônomo de
desenvolvimento técnico até chegar a diretor de negócios estratégicos. Passou pela CCAB e DVA e assumiu, em 2010, o desafio de estruturar a Sapec Agro no Brasil, que em 2020 se tornou Ascenza, atuando desde a abertura da empresa no Brasil, registro dos produtos, desenvolvimento de portfólio, formação da equipe e implementação de todos os processos operacionais.


