Alessandro Coelho e Débora Ishikawa (Foto: Edgar Ishikawa)
“Quem não tem cão caça com gato”, diz um antigo dito popular. E quem tem solidão, cura-se como? Para os acrobatas Alessandro Coelho e Débora Ishikawa, fundadores da premiada Cia. Gravitá, a resposta é a mesma do ditado: com gato. Aliás, a relação entre um professor solitário e uma gata de rua ganha contornos de circo e teatro ao longo do espetáculo Sob o mesmo Teto. A montagem será encenada no sábado (21/5), às 19h, no Centro Cultural Casarão do Barão, em Campinas (SP). Com entrada franca (os ingressos serão distribuídos uma hora antes do espetáculo), a apresentação contará com audiodescrição.
Contemplada pelo ProAC (Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo), a partir do edital Circulação de Espetáculo para o Público Infantojuvenil, a temporada de Sob o mesmo Teto passou por cinco cidades do estado. Além de Campinas, Garça, Mogi das Cruzes, Marília e Bauru receberam o espetáculo durante o mês de maio.
Sob a direção de Michelli Rebullo, da Cia. Diálogos Acrobáticos, o espetáculo lança mão das linguagens do circo e do teatro para narrar essa singela história, também pautada por encontros. “O circo é muito agregador. Ele sempre trouxe o teatro, a música e a dança para dentro dele. É um lugar de simbiose”, destaca a diretora. Durante o processo de criação, Michelli conta que buscou potencializar, em cada uma das cenas, as diversas variações da acrobacia de solo, ponto forte da companhia.
E o que a plateia pode esperar dessa linguagem circense? O acrobata Alessandro Coelho, intérprete do professor cheio de manias, responde num fôlego só: jogos corporais, cômicos e acrobáticos. “O espetáculo possui acrobacias de solo individuais e em dupla. Nas acrobacias em dupla, utilizamos uma técnica circense denominada mão-a-mão. Assim, temos elementos acrobáticos estáticos e dinâmicos, que se misturam à trama da história encenada”, conta.
Com uma hora de duração, a montagem, com classificação livre, conduz o espectador a uma redescoberta, que parece ter sido bem esquecida nos tempos atuais: o quanto as relações, tanto com animais quanto com pessoas, são capazes de transformar o ser humano para melhor. Sob o mesmo Teto, em especial, a transformação acontece a partir do encontro entre um homem metódico e um pet resgatado das ruas.
“Nossa relação no dia a dia nos faz enxergar os pets como pessoas. Eles têm vontades, manias e se comunicam conosco. E as acrobacias simbolizam justamente a harmonia dessas relações. Sou amante deles, sou a favor da adoção e prezo pelo respeito a todas as formas de vida e acredito que essas coisas permeiam nossas criações. Afinal, eles nos ensinam uma outra linguagem do amor”, conta a acrobata Débora Ishikawa, a intérprete da gata.
Por sinal, a gata da cena teve inspiração em um felino da vida real: Susi, que acompanhou boa parte da vida da acrobata. “Ela era destemida, espantava os cachorros da vizinhança, era uma ótima caçadora, mas ao mesmo tempo muito carinhosa. Sou muito grata pelo tanto que ela me ensinou”, recorda-se. Para levar os gestos à cena, a acrobata se utilizou da mímesis corpórea (teatralização de movimentos do cotidiano a partir da observação), buscando, ao máximo, humanizar os trejeitos felinos. “Nosso objetivo sempre foi o de trazer referências sutis, sem apresentar um gato na sua forma literal, dada a visão humanizada dos nossos pets que a convivência nos traz”, reforça.
Sob o mesmo Teto não tem fala. Tudo é gestual. Por conta disso, como destaca Alessandro Coelho, a trilha sonora inédita, assinada por Fred Fonseca, tem papel fundamental de guia. Leva o espectador a uma imersão entre as ações e os muitos miados. “Se entendermos que a cenografia, o figurino, a iluminação e, claro, as acrobacias são corpo desse espetáculo, então a trilha sonora é alma deste corpo. Ela é que conduz os personagens e o público ao longo das cenas”, destaca o acrobata.
Por fim, quem assiste ao espetáculo, independentemente da idade, sai tocado pelo miado da amizade. Sente-se ávido em buscar novas e antigas relações de convivência. Os acrobatas, por outro lado, transbordam-se de esperança. “Só teremos uma boa convivência quando conseguirmos encontrar uma harmonia entre todos os envolvidos. Nesse ponto, os conflitos cessam e o convívio passa ser uma soma de potencialidades”, finalizam.
O espetáculo
Um professor muito ocupado com sua rotina e suas manias, despretensiosamente, encontra companhia em uma gata atropelada. Ele a salva das ruas, ela o salva da solidão. Sob o mesmo Teto é um espetáculo da Cia. Gravitá, com Débora Ishikawa e Alessandro Coelho, dirigidos por Michelli Rebulho, da Cia. Diálogos Acrobáticos.
A partir de jogos corporais, cômicos e acrobáticos, os personagens se encontram e criam um laço de amizade que transforma a forma como ambos enxergam a vida.