Jornal de Campinas

Eu não perdoo

O assunto é muito sério: “Aquele que não consegue perdoar está correndo risco de infarto”. Não é questão de religião, não. A opinião é da psicanalista paulista Suzana Avezum. Sua conclusão se baseia numa pesquisa científica com dois grupos diferentes: os que perdoam e os que não perdoam.
Todos nós passamos por conflitos de relacionamento: ofendemos e somos ofendidos. A questão maior é a que vem depois de uma discussão, uma briga, uma infidelidade, uma agressão ou algo parecido. Como reagimos a essa situação? Perdoamos ou não?
A psicanalista explica que “a mágoa provocada pelo perdão gera um stress que não é momentâneo, mas retorna, ao longo da vida, cada vez que nos lembramos da situação. Para se defender, o corpo aumenta a quantidade de hormônios como o cortisol e a adrenalina que, em excesso fazem mal. O bombeamento em longo prazo arruína o coração”.
Todos nós estamos de acordo que não é fácil perdoar. Alguns têm mais facilidade de virar a página, mas outros não conseguem perdoar. Carregam essa mágoa por muito tempo. Mas, por que as crianças que brigam, logo voltam a brincar juntas. O que acontece?
No Antigo Testamento está escrito: “Amar o próximo como a si mesmo”. Aí está a razão do esforço que precisamos fazer para perdoar. É uma questão de saúde, de qualidade de vida, de amor a si mesmo. A pessoa que perdoa sente um grande bem-estar. E isso é mais importante. É possível que outra pessoa já tenha sido perdoada ou não mereça o perdão. No entanto, pensando bem, quem sofre mais é quem não perdoa e fica “curtindo” aquelas lembranças e mágoas interminavelmente.
Nesse ponto, a psicanalista diz que não é preciso esquecer a mágoa para perdoar: todas as ve­zes que você se lembrar daquele fato passado, veja-o como observador apenas, e imagine, não uma “ferida”, mas uma “cicatriz”. “Ela está lá, mas não dói mais”.
E não se esqueça que o perdão começa com um primeiro passo: “a pessoa que quer perdoar precisa aceitar que tem raiva, ódio ou rancor, e enfrentar seus sentimentos”. Com esse pensamento busca tomar uma atitude mental. Como disse Jesus: o perdão é uma atitude do coração.
Portanto, proteja a sua saúde, pratique um gesto de amor a si mesmo, valorize-se e perdoe a pessoa que o magoou e ofendeu. Prevenir doenças é obrigação de todos. Use de fé e sabedoria. Lembre-se sempre que o perdão é a maior dádiva que podemos doar a nós mesmos.

Cônego Luiz Carlos Magalhães – Jornalista e Pároco Emérito da Paróquia Cristo Rei
 

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