Lajedo de Soledade/Crédito: Lucas Forti
Projeto de escuta ambiental
A instituição, com cinco unidades no Brasil apresenta o Escutadô, projeto de desenvolvimento de um sistema de inteligência artificial capaz de avaliar mudanças climáticas no sertão do semiárido
A FITec – Fundação para Inovações Tecnológicas – está participando do desenvolvimento de um sistema de inteligência artificial capaz de avaliar condições de degradação ambiental no Semiárido brasileiro, com base em informações acústicas da paisagem. Batizado de Escutadô, o projeto tem como ferramenta principal um gravador que permite o monitoramento acústico contínuo do ambiente por meio da escuta da paisagem, fazendo o acompanhamento de três fontes de sinais: geofonia (sons da própria natureza, como ventos, chuvas, trovões etc.), biofonia (sons da fauna, como pássaros, animais, insetos, anfíbios, entre outros) e os efeitos da antropofonia (interferência do ser humano no ambiente, incluindo conversas, máquinas e barulho dos carros, por exemplo). As informações climáticas (umidade, temperatura e índices pluviométricos) também serão coletadas por uma estação meteorológica.
Trata-se de um desafio científico e tecnológico por trabalhar com o som, e não a imagem, para treinar a máquina por meio de IA – Inteligência Artificial. Com recursos da Finep, o Escutadô está sendo desenvolvido em parceria com a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), a Associação de Meliponicultores e Meliponicultoras Potiguar (Amep) e com a Unicamp e o Brazilian Institute of Data Science (Bi0s). “O monitoramento, coleta e geração de informações permitirão a criação de uma base de dados do meio ambiente. A partir desses dados serão desenvolvidos os algoritmos de inteligência artificial que, no futuro, permitirão avaliar as mudanças ambientais do Semiárido em tempo real, possibilitar a identificação de possíveis degradações e facilitar a tomada de decisão para a realização de medidas de contenção ou redução dos efeitos do clima e da interferência humana no ambiente”, explica Giovanni Holanda, coordenador científico do projeto pela FITec. Por meio da composição sonora e demais dados, será possível avaliar as condições do ambiente e verificar se ele está equilibrado, “com saúde”. “Verificaremos a vocalização da diversidade dos animais, por exemplo, e se ela está em conformidade com o esperado daquela localidade. As análises serão feitas tanto no período da seca quanto da chuva. As informações serão repassadas para o OAS – Observatório Ambiental do Semiárido – localizado em Mossoró, no Rio Grande do Norte”, acrescenta.
Participação da população
A relevância está ainda no fato de ser um projeto de “ciência cidadã”, ou seja, que envolve a comunidade para o seu desenvolvimento. Colaboradores voluntários (proprietários de terra, incluindo integrantes da Associação de Meliponicultores e Meliponicultoras Potiguar) receberão kits de escuta compostos por gravadores autônomos de áudio e uma estação meteorológica, que funcionará por meio de painéis fotovoltaicos. Com sede em Mossoró, a associação congrega os produtores de abelhas sem ferrão do Rio Grande do Norte. A comunidade está sendo convidada a participar do projeto por meio de folhetos e vídeos explicativos postados no Youtube. Por meio de QR Codes, os interessados são levados aos canais para o credenciamento.
O projeto já conta com colaboradores cadastrados de munícipios do Rio Grande do Norte e das fronteiras da Paraíba e do Ceará. Em um primeiro momento, serão coletadas amostras de áudio da paisagem sonora e dados climáticos dos pontos de escuta, com o objetivo de treinar os modelos de inteligência artificial. Depois, o próprio acompanhamento permanente auxiliará nas avaliações que servirão de base para a tomada de decisões que visem a garantir a sustentabilidade daquela região. “O público atua em parceria com os cientistas profissionais, experimentando uma ampliação das possibilidades de aprendizado de um caminho de popularização da ciência. Com a participação nesse projeto científico, os voluntários auxiliarão na ampliação do alcance das metas estabelecidas do estudo, criando evidências novas que permitam a busca por soluções mais robustas e confiáveis”, como destaca o material de divulgação do projeto.
Giovanni Holanda, coordenador científico do projeto pela FITec/Divulgação