Da saúde à moradia, os hábitos de consumo e as soluções para as necessidades diárias sofreram mudanças depois da chegada repentina da pandemia, que se estende por mais de um ano. O interesse pelo cultivo de hortas em casa, contudo, é uma tendência verificada em todo o mundo como resposta ao interesse por alimentos livres de conservantes, que teve processo acelerado durante a quarentena.Tendência atestada pelos dados do Google Trends, que mostram a procura por “como fazer uma horta” duas vezes maior em 2020, quando comparada a 2019. Como solução a essa demanda nos grandes centros, as hortas verticais – também chamadas de fazendas verticais – ganham força ao oferecer a ideia de plantações feitas no exterior de edifícios, onde todos os processos de manutenção dependem da movimentação e estrutura do prédio “hospedeiro”.Uma revisão bibliográfica realizada pelos pesquisadores Lucas Leite Costa, Cláudia Maria Arcipreste e Tito Flávio Rodrigues de Aguiar, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e publicada em abril na Revista da Estrutura de Aço (REA)* do Centro Brasileiro da Construção em Aço (CBCA) verificou que a utilização da estrutura metálica, padronizada e modular mostra-se eficiente para atender às necessidades das fazendas verticais em diferentes localidades. A escolha da construção industrializada em aço proporciona obras relativamente rápidas, se comparadas aos processos em concreto armado, além de apresentar benefícios que se associam à proposta sustentável dos projetos.”O sistema construtivo em aço está em perfeita sintonia com o conceito de desenvolvimento ambientalmente sustentado. Ele envolve questões amplas, que englobam desde a escolha da implantação às condições e custos de operação, da seleção dos materiais utilizados e avaliação do impacto da obra em seu entorno às definições do conforto térmico, acústico e visual proporcionado aos usuários. Além disso, há uma atenção especial com os aspectos sociais relacionados com os trabalhadores envolvidos ou a comunidade”, explica o diretor executivo do CBCA, Eduardo Fares Zanotti.Ainda de acordo com a pesquisa, nos casos em que a horta seja acoplada a um prédio já existente, é possível que após sua vida útil a estrutura seja desmontada e remontada em outros locais. Além disso, por se tratar de um material 100% reciclável, o aço pode voltar aos fornos para ser reaproveitado de outra forma.Em grandes cidades no Japão, na China, Coreia do Sul, Tailândia e Singapura essa forma de produzir alimentos já é uma realidade. Nos Estados Unidos, na cidade de Westbrook, uma fazenda de 70.000 pés quadrados (aproximadamente 21,336 km²) está começando o cultivo de produtos variados em um prédio, com o objetivo de driblar o inverno rigoroso e condições irregulares do solo. A Vertical Harvest, empresa responsável por essa instalação, estima a produção de 1 milhão de libras (aproximadamente 454 toneladas) de produtos por ano para abastecer a cidade e os arredores. Horta Vertical no coração de São PauloEsse movimento arquitetônico também foi registrado pelos alunos do curso de arquitetura da Universidade de São Paulo (USP), Luiz Sakata e Augusto Longarine, que desenvolveram um projeto que prevê uma horta urbana no edifício Copan, assinado por Oscar Niemeyer, localizado no centro de São Paulo e um dos maiores complexos residenciais do mundo. A proposta, que considera o processo de estruturação metálica até a comercialização dos alimentos produzidos, foi vencedora do “13º Concurso CBCA para Estudantes de Arquitetura” e da etapa latino-americana “Prêmio Alacero 2020″.”O projeto propõe a conversão de espaços residuais e sem função social em oportunidades de produção de arquitetura e uso da cidade em sua plenitude. Mas para que essa estrutura fosse acoplada ao edifício já existente, nós precisávamos de um material estrutural que oferecesse versatilidade, racionalidade, precisão, e a uma grande resistência, ou seja, o processo só poderia ser executado em aço”, explica Sakata.A ideia dos jovens brasileiros também sugere a instalação de módulos parasitas, a partir de determinada altura do edifício. Assim, são gerados novos espaços, que podem servir como galerias de arte, áreas de lazer e até mesmo escolas. Esses locais poderiam ser custeados pela prefeitura, pelo setor privado ou pelo próprio condomínio. “A autonomia que o material nos confere quanto a peças, seções e componentes estruturais é imbatível”, diz Longarine. *Sistema modular metálico para edifícios de agricultura urbana” está disponível em: https://www.cbca-acobrasil.org.br/revista-da-estrutura-de-aco-rea/#edicao-atual |