Olhando para a realidade de nosso cotidiano, percebemos que uma das dificuldades que encontramos em nossos líderes de hoje é a sensibilidade para reconhecer o valor dos outros e saber sair a tempo. Agarram-se demasiado ao cargo que assumem e se consideram insubstitíveis. Senhores de si, entendem que, depois deles, ninguém mais poderá fazer o que eles fizeram. Não percebem que, ao invés de servirem à instituição ou à sociedade, servem-se a si mesmos.
Na lista de nossos deputados e senadores, temos muitos maus exemplos. Parece que não têm a humildade suficiente para reconhecerem a existência de pessoas que os podem substituir, continuando e aperfeiçoando o trabalho que iniciaram.
Na Bíblia nós temos um exemplo clássico. João Batista nasceu com a missão de preparar o povo para a chegada do Messias. Foi para o deserto, anunciou o batismo da conversão, batizou Jesus e saiu de cena. «É preciso que Ele cresça e eu diminua» (Mt 3,1-17). Reconheceu a sua superioridade: “Eu não sou digno de desatar-lhe as correias de suas sandálias”.
A meu ver, cargos vitalícios são prejudiciais à sociedade. Seja onde for, os cargos de liderança devem ser exercidos por um determinado tempo. Caso contrário, pode acontecer o envelhecimento da autoridade.
Assim se referiu o Papa João XXIII na Encíclica Pacem in Terris: “Os líderes se fazem donos em vez de servos”.
Na minha caminhada como sacerdote, nos vários serviços que prestei à Arquidiocese, sempre pedi para sair. Trabalhei na formação de catequistas, com grupos de jovens, na assessoria de imprensa, nas Paróquias N. Senhora das Graças e Cristo Rei. Coincidiu o tempo nessas duas paróquias: 16 anos.
Ao apresentar minha carta de renúncia, aos 75 anos, conforme norma da Igreja, recebi o convite de permanecer na comunidade até o tempo que julgasse oportuno. Chegando aos 81 anos, julguei oportuno afastar-me da administração paroquial. As tarefas são muitas, a responsabilidade é grande. O Papa Bento XVI também deu exemplo: percebeu que era tempo de ceder o lugar a outro e saiu de cena.
Valeu a pena trabalhar na Paróquia Cristo Rei, contando com a colaboração de leigos conscientes, responsáveis, ricos em talentos e capacidade de servir. Com certeza, todos os frutos que colhemos são consequência desse trabalho em equipe, no esforço diário de ouvir as pessoas, acolher as orientações da Arquidiocese e elaborar um plano que se adequasse à realidade do bairro e da paróquia. Uma Igreja «em saída». Obrigado a todos.
Uma das riquezas que descobri na comunidade foi sua vocação para o serviço através da doação de seus recursos humanos e materiais. Um antigo projeto da Arquidiocese se tornou real e eficaz: “a socialização dos bens” e dos talentos das pessoas. Várias campanhas foram desenvolvidas: enxoval para nenês entregues pela Pastoral da Criança, material de higiene pessoal para a Pastoral Carcerária, auxílo permenente ao CEPROMM, doações temporárias para comunidades e paróquias de periferia, atenção aos moradores de rua e aos enfermos de casas de repouso do bairro e tantas outras.
Nossa gratidão a todos os que nos prestigiaram nas celebrações litúrgicas, no compromisso com o dízimo paroquial, atendimento profissional, no espaço cultural, e em todas as demais atividades programadas pela paróquia. Eu os guardarei sempre em meu coração, e em minhas constantes orações ao Senhor.
Côn. Luiz Carlos Magalhães é jornalista e Pároco Emérito da Paróquia Cristo Rei