Nossas atitudes refletem na sociedade
Márcio Coimbra
O Brasil mergulha na polarização, entretanto, com a Lava Jato preservada. Estes foram os principais desdobramentos da decisão do Ministro Fachin, que abalou o mundo político. Os oportunistas de ambos os lados não perderam a chance de torcer a narrativa para iniciar o jogo com vistas à sucessão presidencial. Uma dinâmica que se retroalimenta e funciona para ambos os lados das extremidades do espectro eleitoral.
Para Bolsonaro, a volta de Lula ao jogo é a notícia que tanto almejava. Bolsonaro é um político forjado na dinâmica do enfrentamento, se criou no antagonismo e joga na polarização. Ter um inimigo é essencial. Sem adversário, sente-se perdido e geralmente erra em suas manobras. Ao encontrar um oponente, puxa o controle do jogo para si, pautando o adversário por meio de suas narrativas. Sonhava com a volta de Lula ao ringue. Agora, vencer o lulismo nas urnas não será tarefa fácil.
Para Lula, a dinâmica também serve de forma impecável. Usará a falta de vacinas, o descontrole da pandemia e a desaceleração da economia para ombrear com Bolsonaro. Lula tem a seu favor o recall de um período de expansão da economia e controle das contas públicas, tentando dissociar os erros de Dilma dos acertos de seu governo. Usará a narrativa de ter sido vítima de um golpe político que o tirou das eleições de 2018.
Como vemos, o script está pronto e tanto Lula quanto Bolsonaro precisam um do outro para retroalimentar suas narrativas e a tentativa de polarização. Neste embate, entretanto, pode chegar um elemento novo. Caso Sérgio Moro opte por tentar entrar no páreo, a partida pode embolar para Bolsonaro, uma vez que a polarização pode se estabelecer entre Moro e Lula, deixando o atual presidente de lado. Sem antagonistas, sendo um alvo fácil de críticas, Bolsonaro correria sério risco de ficar pelo caminho.
Ao reabilitar Lula para a disputa eleitoral, Fachin procurava preservar a Lava Jato. No jogo de xadrez, ao anular os processos de Lula por incompetência de foro, o Ministro preservou os demais casos da operação, evitando que fosse decretada a suspeição de Moro – estratégia desenhada por Gilmar Mendes e que teria atingindo maioria na turma com o apoio do indicado de Bolsonaro ao STF: Nunes Marques. A tentativa de decretar a suspeição de Moro foi sepultada por Fachin, livrando Lula, mas preservado todas outras sentenças.
Certamente o sistema ainda irá trabalhar para ceifar as chances de Moro ser candidato, uma vez que possui chances reais de vitória. A eleição de Lula, onde foi gestada a corrupção, ou a recondução de Bolsonaro, responsável por enterrar as investigações, são opções muito melhores para o sistema. Resta, ao chamado centro, se unir em torno de outro nome caso Moro não entre na disputa.
O Brasil estará novamente diante de uma decisão importante em 2022. A chance de uma terceira via é também a possibilidade de quebrar uma infeliz polarização, que pode deixar nosso país refém dos mesmos erros e dos atores responsáveis por uma condução errática da pandemia, um estelionato eleitoral de proporções descomunais e os esquemas de corrupção que colocaram o país de joelhos. O Brasil merece muito mais do que uma polarização ilusória que representa apenas mais do mesmo.
Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil. Diretor-Executivo do Interlegis no Senado Federal