Jornal de Campinas

Direito Digital – Consciência Digital e Inteligência Artificial – A busca pelo equilíbrio no ambiente virtual

*Adriana Garibe e Lyana Breda

 

Em média uma pessoa toma cerca de 35 mil decisões por dia. Atualmente inúmeras dessas decisões são tomadas em meio digital, influenciadas pelos chamados defaults. Este termo (traduzido para o português como ‘padrão’), remete à ideia de decisões que são tomadas por você de forma inconsciente e direcionada. Em outras palavras, o sistema decide automaticamente sem que o usuário seja consultado. Funcionam como atalhos mentais que tornam o pensamento mais fácil e rápido, mas podem ser perigosos ao nos levarem a tomar decisões irracionais e inconscientes.

E-mails promocionais são um clássico exemplo de default. A partir de um comportamento seu, de seguir determinado perfil no Instagram, por exemplo, o sistema decidiu que você deveria receber informações e propagandas sobre aquele perfil e se você não quiser mais recebê-los precisa optar por sair da lista de contatos daquela determinada empresa, ou seja, automaticamente você passará a ser bombardeado com esses e-mails, ainda que não tenha conscientemente tomado essa decisão. Os checkboxes, portanto, – aquelas caixinhas que normalmente já são previamente preenchidas pelo próprio sistema sem nos consultar, como “quero receber ofertas”-, são exemplos de defaults: decisões que são previamente tomadas por você.

É importante conhecermos também o conceito de nudges que pode ser traduzido como um “empurrãozinho” no sentido de uma determinada decisão. São intervenções usadas para influenciar a tomada de uma decisão pelo indivíduo. Por exemplo, se você quer que seu filho passe a comer mais frutas você pode usar os seguintes nudges: proibir o consumo de doces industrializados ou começar a deixar frutas picadas ao alcance. As duas condutas funcionam como intervenções para influenciar a tomada de decisões. No mundo digital somos bombardeados o tempo todo com nudges e defaults que nos inclinam em determinadas direções.

Outro exemplo de viés cognitivo é a ferramenta de pesquisa no Google. Quando procuramos um produto ou serviço aparecem milhares de resultados e normalmente clicamos nos primeiros. Isso levanta a questão, foi você quem realmente escolheu aquele produto ou o Google escolheu por você?

No mesmo sentido, podemos questionar: será que é você quem decide o que vai ver na sua timeline e/ou feed ou será que o Facebook, Instagram ou LinkedIn e todos os outros ambientes digitais influenciam você a consumir o conteúdo que eles consideram mais relevante?

Precisamos levar em consideração, ainda, que existem dois tipos de influência: persuasão e coação. No primeiro tipo, o indivíduo é influenciado a fazer o que quer e precisa, enquanto no segundo tipo é influenciado a fazer o que não quer e não precisa. Evidente, portanto, que o primeiro tipo pode ser benéfico, diferente do segundo que é quase uma manipulação. A assinatura forçada, por exemplo, é um tipo de “empurrãozinho” prejudicial na maioria dos casos. Existem, em contrapartida, vieses positivos. Muitos equipamentos digitais são utilizados para otimizar o tempo dos indivíduos, trazer praticidade às atividades cotidianas, monitorar doenças etc.

Nesse sentido, um dos objetivos deste texto é fazer esta provocação ao leitor, aumentando o seu nível de consciência digital. O primeiro passo para o despertar da nossa consciência digital é assumirmos que somos influenciados pelos vieses inconscientes ou cognitivos. O segundo passo é ficarmos atentos se estes “empurrõezinhos” digitais estão nos influenciando a fazer coisas que não queremos ou precisamos, prestando especial atenção nas checkboxes que já foram previamente marcadas por nós. Para alcançarmos um equilíbrio sadio no cenário tecnológico é preciso ter pensamento crítico, empatia nos meios eletrônicos e gerenciar tempo e tarefas nas redes sociais. Seguindo estes passos podemos atuar de modo a fazer a tecnologia trabalhar a nosso favor e não ao contrário.

A consciência digital é o segredo para combater a manipulação da inteligência artificial.

Advogadas Adriana Garibe e Lyana Breda do Lemos

Advogadas Adriana Garibe e Lyana Breda do Lemos

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