Jornal de Campinas

A hora do banho do animal de estimação é um momento feliz?

Dermatóloga do Hospital Veterinário Taquaral explica prós e contras do banho em cães e gatos, espécies que devem ou não tomar e as consequências da má administração desse processo

Dar banho no animal de estimação pode parecer simples, mas envolve alguns cuidados. Quem não dá a devida atenção a esses detalhes pode deixar o pet traumatizado e até provocar doenças.

A frequência e o local do banho vão depender de algumas características do animal e do ambiente em que vive, como tipo de pelagem, raça, o quanto se suja e como está a sua saúde.

Há ainda outras variantes a serem observadas, como temperatura da água, tipo de shampoo e a secagem dos pelos.

A Dra. Fabiana Vitale, especializada em dermatologia e atuante no Hospital Veterinário Taquaral, em Campinas, relaciona abaixo algumas orientações importantes para a higienização, tanto de cachorros, quanto de gatos, levando em conta também os bichinhos que apresentam problemas de pele.

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Cãozinho cortando as unhas depois do banho/Foto: Júlia Camargo



Todo pet precisa de banho?

Todas as raças de cães podem tomar banhos. A necessidade varia conforme o estado geral de saúde da pele e pelos: se há condições de enfermidades como infecções, seborreia, sarna, infecções fúngicas e quadros alérgicos que exijam banhos com uma frequência maior. Se o animal fica dentro ou fora de casa, por exemplo, se tem contato com piscina ou áreas alagadiças/úmidas (lagos, rios), o comprimento do pelo e o grau de sujeira da pelagem. Essas condições de hábitos de vida e de doenças da pele é que determinam a necessidade maior ou menor de banhos.

Gatos não precisam de banho, sendo indicado apenas para raças especiais como o Sphynx (gato sem pelo), que possui produção de gordura na pele mais acentuada, exigindo maior frequência de banhos (semanal ou quinzenal) com shampoos específicos para controlar a produção de gordura.

Os felinos não toleram o cheiro dos produtos. Por isso, aumentam a lambedura do pelo e consequente a sua maior ingestão, elevando a chance de obstrução por tricobezoares (bolas de pelos) no sistema digestivo.

De modo geral a recomendação para gatos é não dar banho, a não ser que haja uma necessidade médica específica (tratamento de alguma enfermidade da pele).

No entanto, se o tutor faz questão de banhar o gato, a melhor recomendação é que essa rotina se inicie quando ainda jovem/filhote para ele se acostumar desde cedo. Caso contrário, iniciar com o animal já adulto, que não sai de casa e que nunca foi a um pet shop, o banho pode ser bastante desconfortável e traumático para o felino.

Qual a frequência ideal?

Depende. Qual a necessidade do paciente? Há enfermidades da pele? Qual o hábito de vida do paciente? Qual o tipo de pelagem que o animal possui?

Animais de raças nórdicas, como Spitz Alemão, Chow Chow, Samoieda, Husky Siberiano e Malamute do Alaska podem tomar banhos a cada 1 ou 2 meses. Porém, se eu tiver um Shih Tzu com dermatite atópica (doença alérgica), vai precisar de 1 a 2 banhos por semana, com shampoos específicos.

De modo geral, os cães de pelo curto saudáveis precisam de banhos a cada 15-20 dias. E os de pelo longo a cada 20-30 dias. Mas não faz mal tomar banhos semanais, nos casos de animais que durmam dentro de casa, na cama com os tutores.

Gatos de pelo longo podem tomar banhos a cada 30-60 dias, dependendo da quantidade de sujeira e exigência dos tutores. Mas vale lembrar que gatos gostam menos ainda que os cães de tomar banho e podem ficar estressados durante o processo.

Pode ser em casa mesmo? Qual a melhor forma e local para o banho ser administrado?

Com toda certeza, no caso dos cães, o banho pode ser em casa. E se o felino for colaborativo, sem problemas ser em casa também.

A única orientação é que os animais de pelos longos devem ser secados corretamente para evitar infecções da pele e para isso pode ser necessário o uso de secador.

O melhor local é onde o pet se sente seguro e não corre o risco de cair ou prender uma pata e se machucar. É necessário lembrar que nem todo cão gosta de tomar banho e muitos deles vão fazer de tudo para fugir.

Se o pet está saudável e é um banho sem tratamento, pode ser feito no box do banheiro. No entanto, se o pet está sendo tratado, em especial de doenças infectocontagiosas como a dermatofitose, sugere-se banho no quintal no chão ou numa bacia que o pet caiba dentro e que possa ser higienizada depois.

Qual a temperatura da água para o banho, tanto de cães, quanto de gatos?

A temperatura ideal é morna ou temperatura ambiente, a depender do clima (no verão pode ser feita com a temperatura que sai da torneira). Se ao colocar o nosso pulso na água e a sensação é a de que não queima, essa é a temperatura ideal (como em banho de bebês).

Não se deve dar banhos com água quente, em especial em animais com a pele seca e animais alérgicos, pois a água quente resseca demais a pele e pode provocar coceira.

Que tipo de sabonete/ shampoo usar?

A recomendação é usar shampoos e sabonetes indicados para pets. Não se recomenda usar produtos da linha humana. A pele do cão e do gato tende a ter um pH mais ácido e a pele dos seres humanos possui o pH mais alcalino. Se usamos sabonetes humanos para cães aumenta a chance de ressecamento, coceira e descamação (caspas). Não se recomenda o uso de perfumes, pois pode aumentar a coceira em pets alérgicos, por exemplo. O ideal é conversar com o médico veterinário do seu pet para entender a necessidade específica do seu pet.

E nos casos de banhos terapêuticos, por enfermidades cutâneas, um médico veterinário dermatólogo (especializado em dermatologia) deve ser consultado para prescrever o melhor shampoo.

Pode secar a pelagem ao vento ou precisa de secador de cabelo?

Animais de pelo curto que são banhados em dias de sol podem ser secos ao ar livre. Mas animais de pelo longo e duas camadas de pelos (como os cães nórdicos), devem ter a pelagem seca com auxílio de secador e soprador (nestes casos é mais indicado levar o cão ou o gato ao pet shop).

O banho comum é capaz de tirar apenas sujeira ou pode eliminar pulgas e carrapatos?

O banho comum pode ajudar a reduzir a quantidade de pulgas e carrapatos (que são mais raros nos gatos), mas em casos de grandes infestações será necessário o uso de shampoos acaricidas e muitas vezes ainda será necessário associar a um tratamento sistêmico (comprimidos ou pipetas).

Para o gato que não é banhado, há a necessidade de limpeza das partes íntimas?

O gato tem hábito de grooming, que é a autolimpeza. Quando ele se lambe, limpa também a área íntima. Se o gato deixar de fazer o grooming, isso é um importante alerta para investigar doenças, pois um gato doente para de se limpar/lamber. Em gatos de raças de pelos longos como o Persa, Maine Coon, Angorá, Somali, Ragdoll e também os Sem Raça Definida de pelo longo, pode ser necessária a tosa higiênica da parte íntima para evitar que as necessidades fiquem aderidas ao pelo.

Há dicas de como controlar a impaciência do gato na hora do banho?

Não existe um truque específico, pois isso depende do animal, da sua personalidade e o quanto ele se adapta a rotina de banhos. Também irá depender muito do local escolhido para o banho. Deve ser um lugar tranquilo, que não tenha rota de fuga pro animal e que seja longe de cães (pet shops exclusivos para gatos são mais indicados). O banho depende também do operador, pois se a pessoa tiver medo de gatos, não gosta da espécie ou não tem paciência com felino, não se recomenda que o banho seja feito com esse banhista.

Quais as maneiras para o tutor de gato se proteger de mordidas e arranhões na hora do banho?

Existem luvas específicas para manejo de animal com presas e garras, que são as luvas de raspa de couro, mas não recomendo que o tutor as utilize durante o banho, pois alguém inexperiente pode não ter firmeza para segurar e conter o animal. Além de que se o couro for molhado constantemente, ele vai estragar e deixar mau cheiro. O ideal é cortar as unhas do pet antes do banho para facilitar o manejo e reduzir o risco de arranhaduras. E se o tutor não se sentir seguro, melhor levar o animal a um profissional especializado.


Há contraindicação do gato doméstico que não sai para a rua dormir na cama dos tutores?

Nenhuma contraindicação. Quem tem ou já teve um felino sabe que eles têm hábitos de higiene muito apurados por meio do grooming (lambedura). Salvo exceções de pessoas alérgicas a pelos de gatos.

Dra. Fabiana Vitale, especializada em dermatologia veterinária /Foto: Matheus Campos

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