*Adalberto Santos
Tempos difíceis. Estamos vivendo um momento no mínimo ímpar em nossas vidas; uma pandemia que vem assolando não só o Brasil, mas o mundo. O covid-19 tem não só a capacidade de contaminar e matar, mas também de paralisar toda uma economia, a indústria semiparalisada, o comércio fechado, ruas mais vazias que o normal. Mas quando achamos que tudo está paralisado, existe um segmento da sociedade que parece não se importar muito com a pandemia – o segmento da violência e do crime. Os índices do último trimestre mostram que o crime está mais ativo do que nunca.
Ao contrário do cenário que estamos vendo, no ano passado, onde os índices vinham em uma descendente, o trimestre inicial de 2020 já nos mostra que eles começam a se elevar.
No caso do roubo de carga, nossa região segue na contramão do Estado que teve uma redução nas ocorrências. Aqui o aumento foi significativo, em especial em Campinas (+ 47,37%). O latrocínio, que é o roubo seguido de morte, passou de 0 (zero) casos no primeiro trimestre de 2019, para 5 (cinco) casos no mesmo período de 2020, superando inclusive o número do ano inteiro de 2019 que foi de 3 casos.
No caso do roubo de cargas, o motivo para esse aumento em nossa região é, obviamente, o fato de termos uma riqueza de rodovias que nos cortam, uma malha viária que nos leva para qualquer lugar desse país, inúmeros acessos que facilitam não só a abordagem dos caminhoneiros como também a fuga após o roubo, então, óbvio que acabamos sendo o centro das atenções desse tipo de quadrilha.
Com referência ao latrocínio, alguns números chamam a atenção. Na contramão do aumento desse índice, percebemos que o número de roubos em geral e furtos diminuíram; isso nos leva a crer que os marginais estão mais violentos. Outro motivo seria que pelo fato das pessoas estarem mais em casa nesse momento, o que originalmente poderia ser um furto acaba se tornando um roubo – e inevitavelmente o enfrentamento entre marginal e vítima pode levar a um final trágico.
Alguns cuidados nós cidadãos temos que ter para nos proteger nesse momento. Ruas vazias são um terreno fértil para esse tipo de crime ocorrer, portanto evite andar sozinho em locais desertos, fique atento a toda e qualquer movimentação ao seu redor, não fique exposto por tempo mais que necessário. Quando estiver em casa, mantenha portões e portas trancados, mantenha uma comunicação contínua com vizinhos, sejam mais colaborativos nesse sentido uns com os outros.
Mas não é só de más noticias que vivemos; recentemente a DIG de Campinas desbaratou uma grande quadrilha de receptação de carga com provável participação também no roubo de cargas. Uma operação que levou mais de um mês entre serviço de investigação e inteligência até ser finalizada com êxito numa operação tão bem sucedida. Sabemos da importância de se prender uma quadrilha especializada em roubo e receptação de cargas: é a maneira de evitar que motoristas de caminhão, a maioria pais de família, entrem para as estatísticas do latrocínio.
As instituições Polícia civil e Polícia Militar do Estado de São Paulo são reconhecidas como a melhores polícias da América Latina, mas reputo essa qualidade ao esforço individual das próprias instituições e de seus profissionais em um empenho muito pessoal, pois o Governo, enquanto Estado, ainda fica devendo muito, não só para as instituições mas principalmente para toda a população quando o quesito é a segurança.
Indiscutivelmente falta investimento em efetivo, tanto na quantidade quanto na sua qualificação; falta investimento em estrutura de inteligência, falta valorização desses profissionais. A covid-19 esta aí, é fato; enquanto muitos de nós está em quarentena em casa, esses profissionais estão nas ruas se expondo, enfrentando não só um vírus mortal, mas também outro elemento tão letal quanto o vírus: a marginalidade. Nós, enquanto cidadãos, devemos fazer a nossa parte de forma pró ativa, não permitindo que esses marginais nos transformem em suas presas facilmente. Nesse momento devemos tomar todos os cuidados necessários para nos proteger do Covid-19, mas não podemos perder de vista nosso comportamento preventivo também em prol da nossa segurança.
Autor: Adalberto Santos, especialista em segurança e diretor superintendente da Sigmacon. É consultor, palestrante, analista em segurança empresarial e criminal. Possui pós-graduação de processos empresariais em qualidade, MBA em administração e diversos títulos internacionais na área de segurança.