Mulher angustiada/Freepik_Divulgação
*Rebeca Cristina de Souza
Muito tem se falado da escalada do feminicídio “nos últimos dias”. Esse termo me incomoda bastante, explico: a escalada da violência contra mulheres — e, por consequência, do feminicídio — não é recente. Nos últimos quatro anos batemos recordes ano após ano, sem eficiência nas políticas públicas de proteção às mulheres e com os homens cada vez mais afastados desse debate, com discursos misóginos normalizados e o crescimento exponencial de movimentos masculinistas, antifeministas e redpill. Não podemos discutir apenas o ato do feminicídio, que é compreendido como o último e mais grave estágio da violência contra mulheres, mas toda a estrutura desse tipo de violência. Sendo assim, qual é o papel dos homens nessa luta?
Acredito que o mais fundamental é que exista um reconhecimento mútuo: os homens também são vítimas de violências, mas não em razão de gênero. As inseguranças econômicas, sociais e físicas também atingem os homens. Eles precisam reconhecer que, se as mulheres estão em segurança, eles também estão, e isso não coloca as mulheres em posição de privilégio; significa que a luta é unificada e que, ao superar a escalada de violência que estamos vivendo, teremos evoluído enquanto sociedade.
É claro que o esforço político é de extrema importância para mitigar a violência. As políticas públicas de proteção e combate às desigualdades precisam, no mesmo nível, de mais eficácia e investimento. Mulheres e homens devem compreender que o machismo deixa mazelas para todos e que a superação desse sistema de desigualdade é o caminho para a liberdade.

*Rebeca Cristina é campineira, estudante de Geografia na Unicamp, ativista pelo fim da violência de gênero e fundadora dos projetos Escola Sem Assédio e Carnaval Sem Assédio.
