
Menino sendo vacinado_Freepik
Infectologista traz análise sobre cenário epidemiológico atual e baixa adesão à campanha, apenas 46% dos idosos, 28% das crianças e 25% das gestantes tomaram a vacina contra a gripe
Campinas enfrenta um cenário alarmante de baixa adesão à campanha de vacinação contra a gripe, em 2025. O Brasil registra 4.600 óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e a influenza A é o principal agente etiológico por trás das mortes, mas a cidade registra os menores índices de pessoas vacinadas contra a gripe. Segundo a Dra. Maria Kassab, infectologista do laboratório DMS Burnier, apenas 46% dos idosos, 28% das crianças e 25% das gestantes – grupos prioritários – foram imunizados até a primeira semana de junho, bem abaixo da meta de 90%. Essa retração na procura pela vacina coincide com um aumento de 100 casos de SRAG em Campinas nos primeiros cinco meses de 2024 em comparação com 2023, levantando sérias preocupações sobre a saúde pública.
“A baixa adesão à vacinação em crianças, é um reflexo de múltiplos fatores que precisam ser urgentemente abordados. Observamos um cansaço da população em relação às campanhas de vacinação, especialmente após a pandemia de COVID-19, o que gera uma falsa sensação de segurança ou até mesmo um relaxamento sobre a importância das imunizações de rotina. Além disso, a desinformação e as notícias falsas que circulam, principalmente nas redes sociais, contribuem para a hesitação vacinal dos pais. Essa combinação perigosa de fatores leva à exposição de nossas crianças a vírus como a influenza A. É uma equação alarmante: menos crianças protegidas significa mais casos graves e, infelizmente, mais mortes evitáveis”, diz a especialista.
A campanha de vacinação em Campinas, que teve início em abril com a vacina tríplice (H1N1, H3N2 e influenza B), visava alcançar a meta de 90% de cobertura nos grupos de maior risco. Contudo, os números revelam uma realidade preocupante: na primeira semana de maio, os idosos tinham apenas 30% de cobertura, as crianças (entre 6 meses e 5 anos), 10%, e as gestantes, 20%. Mesmo com a intensificação da campanha a partir de maio, com ampliação dos pontos de vacinação e a abertura para toda a população acima de 6 meses, os resultados um mês depois continuaram abaixo do esperado. O aumento no número total de doses aplicadas, de 100 mil para 231 mil após a ampliação, representa um crescimento de apenas 130 mil doses, evidenciando que a intensificação não foi suficiente para reverter o cenário de baixa adesão.
Para a infectologista, a correlação entre a baixa procura pela vacina e o aumento de casos de SRAG é inegável. A influenza A, cuja positividade está em ascensão, é um dos principais fatores que contribuem para essa ocorrência. Enquanto a vacina contra a gripe é uma ferramenta eficaz e amplamente disponível, outras vacinas, como a de Vírus Sincicial Respiratório (VSR), ainda têm acesso mais restrito.
“Para reverter esse cenário e proteger a população, especialmente as crianças, precisamos de uma abordagem multifacetada e proativa. É fundamental intensificar as campanhas de conscientização de forma clara e acessível, combatendo a desinformação com fatos e dados científicos. Precisamos levar a vacina para mais perto da população, com horários flexíveis e pontos de vacinação em locais de fácil acesso, como escolas, creches e até mesmo em eventos comunitários. Além disso, é crucial que os profissionais de saúde reforcem a importância da vacinação em todas as consultas, esclarecendo dúvidas e dissipando mitos. A vacina contra a gripe é a ferramenta mais eficaz que temos hoje para prevenir casos graves e óbitos por SRAG, e cada dose aplicada representa um passo em direção a uma comunidade mais saudável e protegida”, finaliza a Dra. Maria.