Nossas atitudes refletem na sociedade
Setembro é o mês da conscientização da doença. A cada 10 casos, 8 são diagnosticados em estágio avançado; especialistas alertam sobre a importância da detecção precoce
Uma doença silenciosa que não apresenta sintomas em suas fases iniciais. Uma doença que a cada ano atinge mais de 300.000 mulheres no mundo: o câncer de ovário. E foi durante a pandemia, em agosto de 2020, que a Sandra Navarro foi diagnosticada com a doença. “Eu visitava anualmente meu ginecologista, mas com a pandemia resolvi esperar um pouco por segurança. Mas não deveria! Em agosto comecei a sentir dor abdominal, a barriga começou a inchar e achei que estava intolerante a lactose. A dor persistiu e como minha mãe teve câncer de intestino busquei ajuda médica. Meu câncer já estava em estágio avançado, acometendo outros lugares. Foi tudo muito rápido. Fiz cirurgia e quimioterapia. Não é fácil, mas não podemos perder a fé. Meu objetivo é a cura”, conta Sandra, que ainda está em tratamento usando medicamentos orais e fazendo seções de anticorpos.
Setembro é mês da conscientização da doença, cujos pesquisadores do Observatório Global do Câncer (GLOBOCAN) estimam um aumento de 42% no número anual de casos até 2040, chegando a um total de 445.721 novas ocorrências. “Assim, como a Sandra, a grande maioria das mulheres é diagnosticada em estádios mais avançados da doença. No caso do câncer de ovário, dados dos EUA mostram que o diagnóstico de doença inicial só é feito 15% das vezes, ao passo que em 59% dos casos a doença já está avançada. Cinco anos após o diagnóstico, 92% das mulheres que descobriram o câncer no início ainda estão vivas, em comparação a apenas 29% daquelas com diagnóstico em estádio avançado”, conta o médico Leonardo Roberto da Silva, oncologista do Grupo SOnHe – Oncologia e Hematologia e do CAISM/Unicamp.
No Brasil, o câncer de ovário é a sétima neoplasia maligna mais comumente diagnosticada nas mulheres. Para os anos de 2020 a 2022, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que 6.650 novos casos serão diagnosticados a cada ano. “Isso representa 3% de todos os cânceres detectados nas mulheres brasileiras. É o tumor ginecológico associado à maior mortalidade, com um número anual de mortes que chega a 207.000 em todo o mundo. Os dados mais atualizados de óbitos em nosso país são de 2019, quando foram registradas mais de 4 mil mortes pela doença”, expõe a oncologista Susana Ramalho, também do Grupo SOnHe e médica da Sandra.
Devido à ausência de um método eficaz de rastreamento em mulheres assintomáticas, 8 em cada 10 casos são diagnosticados em fase avançada, quando o câncer já se disseminou do ovário para outros órgãos da região pélvica e abdominal, o que reduz as chances de recuperação. Segundo o oncologista Higor Mantovani, outro integrante do Grupo SOnHe, dois fatores são responsáveis pelo diagnóstico na maioria das vezes tardio do câncer de ovário. “Não existe rastreamento para o tumor de ovário como, por exemplo, a mamografia para o de mama, o exame de Papanicolaou para o de colo uterino.
E, para complicar ainda mais, os sintomas do câncer de ovário são inespecíficos e ocorrem principalmente quando a doença está mais avançada. Além disso, são queixas que as mulheres muitas vezes acabam associando a outros problemas de saúde e não suspeitam de que podem ter a doença. Os mais comuns são o aumento de volume do abdome, dor abdominal ou pélvica, dificuldade para se alimentar, sensação de empachamento, sintomas urinários (a paciente urina mais vezes que o normal e sente urgência para urinar) e fadiga. Importante salientar que, quando causados pelo câncer, esses sintomas tendem a ser persistentes, podendo evoluir com piora com o passar do tempo”, explica o oncologista.
Fatores de risco
Segundo a Dra. Susana, o risco aumenta com o passar da idade, sendo maior entre os 55 e os 74 anos, embora mulheres jovens também possam desenvolver a doença. “Outros fatores como não ter filhos, endometriose, tabagismo, início dos ciclos menstruais em idade mais jovem e menopausa em idade mais tardia, além de fatores genéticos, são potenciais para este câncer”, finaliza.
*Higor Mantovani é especialista em Oncologia Clínica pela Unicamp e em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ). É também mestre em Oncologia pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e oncologista do Hospital da Mulher (CAISM/Unicamp). É membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e da Sociedade Americana de Oncologia (ASCO). Higor faz parte do corpo clínico de oncologistas do Grupo SOnHe – Oncologia e Hematologia e atua no Radium – Instituto de Oncologia, no Hospital Madre Theodora, no Hospital Santa Tereza, na Santa Casa de Valinhos e no Hospital da Mulher (CAISM/Unicamp).
*Leonardo Roberto da Silva é formado em Oncologia Clínica pela Universidade Federal Minas Gerais, é oncologista do CAISM/Unicamp, com função docente junto aos residentes em Oncologia Clínica da Unicamp. Mestre e Doutor em Oncologia Mamária pela Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, com doutorado sanduíche na Baylor College of Medicine – Houston/Texas, EUA. É membro titular da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e da Sociedade Europeia de Oncologia Clínica (ESMO). Leonardo faz parte do corpo clínico de oncologistas do Grupo SOnHe – Oncologia e Hematologia e atua no Radium – Instituto de Oncologia, no Hospital Santa Tereza e no Hospital Madre Theodora.
*Susana Ramalho é especialista em Oncologia Clínica pela Associação Médica Brasileira e Sociedade Brasileira de Oncologia. É mestre em Oncologia Mamária e doutora em Oncologia Ginecológica pelo CAISM/Unicamp.Susana também é preceptora dos residentes de Oncologia Clínica do CAISM/Unicamp. Susana faz parte do corpo clínico de oncologistas do Grupo SOnHe – Oncologia e Hematologia e atua no Radium – Instituto de Oncologia, no Hospital Santa Tereza e Santa Casa de Valinhos.