Paulo Pizão, oncologista (Matheus Campos)
*Por Paulo Pizão, oncologista
Estamos no Dezembro Laranja e como oncologista eu faço um apelo: pais, não deixem suas crianças e adolescentes por períodos prolongados sob a radiação solar. O dano na pele é cumulativo e o câncer pode não aparecer imediatamente, mas a habitual exposição exagerada ao sol eleva muito a chance de a doença surgir anos depois.
O apelo se estende às escolas, que não devem programar a grade de aulas de educação física em espaços descobertos no período de 10h às 16h. Os pequenos e os jovens não têm a consciência de que precisam ter essa responsabilidade, por isso os adultos devem educar os mais novos sobre a importância de se ter esse cuidado. Entre praticar exercício físico no sol usando protetor solar ou se exercitar na sombra sem o protetor, prefira a sombra.
A observação é ainda mais fundamental nesta época de férias escolares, verão, de passeios ao ar livre e de viagens para o litoral.
Segundo dados do INCA (Instituto Nacional do Câncer), o de pele é o câncer mais frequente no Brasil e corresponde a cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados no país. O índice é alarmante, ainda mais quando refletimos sobre o fato deste tipo de tumor maligno ser o mais evitável de todos.
É simples. É só não se expor diretamente ao sol por horas seguidas e nem por períodos menores com assiduidade. Mas é muito difícil pedir para a pessoa deixar de fazer o que contraria a sua vontade ou o que lhe dá prazer. E ainda existe a questão cultural de que o bronzeado remete à beleza e conota status.
Quem tem esse conhecimento deve medir as consequências das suas escolhas. Porque permanecer tomando sol perseverantemente, mesmo que usando protetor solar, tem o seu preço. Vale mesmo a pena? Admito que é de se estranhar uma pessoa que passou a vida esturricando no sol chegar ao meu consultório e ficar surpresa com a notícia de que tem câncer de pele. Afinal, isso é o esperado e um dia o corpo pode cobrar pela conduta.
Falando em protetor solar, é preciso ressaltar que há uma falsa sensação de segurança na saúde com o uso do produto. Evidentemente que é essencial que se utilize porque ele protege contra queimaduras solares, bolhas, descascados e ardência. Mas não evita o câncer por completo devido ao efeito cumulativo da radiação na pele!
O protetor solar de qualidade com fator 30 e acima é eficaz na diminuição de 95% dos raios UVA e UVB. Mas os 5% que ele não bloqueia a radiação, com a constância do banho de sol na rotina, os riscos do surgimento do câncer são elevados, bem como aumenta a probabilidade do envelhecimento precoce.
E a proteção de 95% ainda depende do quanto a pessoa repassa o produto na pele. O suor, a entrada na água do mar ou da piscina e o contato com o tecido de roupas ou da toalha geram a perda da eficácia da solução.
As roupas feitas com tecidos tecnológicos oferecem eficácia comprovada, mas infelizmente esses modelos são caros e não são acessíveis para a maior parte das pessoas.
Assim como os outros tipos de câncer, o de pele, quando diagnosticado no início, tem menos chance de deixar sequelas severas ou de se expandir para outras partes do organismo, podendo inclusive ser fatal. Para isso, é necessário ficar de olho na pele e acompanhar se não há o aparecimento de pintas, verrugas ou mudanças no aspecto das marcas que já existem, mesmo as de nascença.
Uma boa fonte para comparação da aparência das pintas benignas e malignas criada pela Organização Mundial de Saúde para ajudar as pessoas leigas a reconhecer o perigo é a “Regra do ABCDE”. Assimetria, Bordas irregulares, Coloração, Diâmetro e Evolução são tópicos que devem ser notados visualmente quando se tem dúvida quanto a pinta. A Regra do ABCDE é de fácil acesso pela internet e há fotografias que podem ser úteis neste confronto.
E se perceber uma pinta nova ou transformação em uma marca antiga, não espere para confirmar se ela está mudando mesmo. Procure um dermatologista o quanto antes. A Regra do ABCDE já salvou muita gente.