Jornal de Campinas

Combate à raiva exige vacinação anual e cuidados com exposição dos pets

Surgimento de novos casos da doença que já havia sido erradicada no Brasil reforça necessidade de atos preventivos

O sucesso do Programa Nacional de Prevenção da Raiva, lançado pelo Ministério da Saúde em 1973, fez com que o Brasil fosse considerado um modelo no combate à doença. “O Brasil se tornou referência mundial quando os casos diminuíram drasticamente desde a década de 90 e chegaram a zero em 2014. Isto só pôde ocorrer por causa da conscientização da população sobre a importância das medidas de controle”, destaca a Dra. Júlia Dantas, clínica médica de pequenos animais no Hospital Veterinário Taquaral (HVT), em Campinas. A raiva, porém, exige cuidados permanentes não apenas das autoridades sanitárias, mas também de toda a população. “Infelizmente, os casos de raiva voltaram a subir após a queda da aderência à vacinação”, alerta a Dra. Júlia.

Vacinar anualmente seu animal de estimação continua sendo uma obrigação de toda pessoa que ama seus pets e que se preocupa com a saúde de toda a família. A raiva, informa a Dra. Júlia, não tem cura eficaz para humanos e mata atualmente 50 mil pessoas por ano em todo o mundo. Para cães e gatos, é letal.

“A vacinação é a melhor forma de prevenção nos cães e gatos. As doses iniciais contra a raiva podem ser aplicadas a partir dos três meses de idade. Depois, devem ser feitas as revacinações anuais”, orienta a Dra. Júlia, ressaltando que a vacinação precisa ser realizada por um médico veterinário habilitado ou em campanhas municipais de vacinação, que são gratuitas e tradicionalmente realizadas no mês de agosto.


Morcegos


Outro cuidado indispensável para o tutor é não permitir que seu pet tenha acesso à rua sem supervisão. É nessa condição que seu animal de estimação fica mais exposto ao risco de contrair a doença. Um risco, tanto para animais como humanos, é a transmissão por morcegos. Quando adoece, o morcego cai no chão. Se for provocado nessas condições, pode morder a pessoa ou o animal e transmitir a raiva.

“Frequentemente recebemos ligações de tutores preocupados dizendo: “Meu cachorro/gato pegou um morcego no quintal, o que eu faço?’ Nesses casos, sempre indicamos que levem seu pet ao hospital para avaliação. Já quanto ao morcego, recomendamos que o responsável acione a Unidade de Vigilância de Zoonoses para que recolham o animal com segurança para análise. Também frisamos que nunca se deve manipular ou tentar capturar um morcego, esteja ele vivo ou morto”, orienta a veterinária do HVT.


Casos recentes

Desde 2010 foram registrados 45 casos de raiva humana no Brasil. O mais recente foi confirmado pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal em julho de 2022. Um adolescente, arranhado por um gato doente, foi infectado e internado em estado grave. Ainda neste ano, outros quatro casos de raiva humana foram registrados em uma reserva indígena em Minas Gerais. Já no estado de São Paulo, o último registro foi em 2018, em Ubatuba. Em Campinas, o último caso ocorreu em 1981.

Em relação a cães e gatos positivados para a raiva, os casos mais recentes no estado de São Paulo são dois casos na espécie canina em 2019 e outros dois em felinos em 2022, sendo o mais recente em Americana. Em Campinas, o último caso relatado em um cão foi em 2015 e em um gato em 2016.

Já em relação a morcegos, o número de casos é maior, embora Campinas seja classificada como área controlada para a raiva. Em 2021, só em Barão Geraldo foram registrados sete casos, além de outros dois no Jardim Lisa e no Jardim Chapadão. Até o momento, em 2022 foram relatados pelo Ministério da Saúde 39 casos entre morcegos em todo o estado de São Paulo.

Saiba mais

O que é a raiva e o que a caracteriza?

A raiva é uma doença infecciosa viral de caráter agudo, que afeta diretamente o sistema nervoso central de mamíferos. O agente causador é um RNA vírus do gênero Lyssavirus, família Rhabdoviridae.

O que a raiva faz no organismo?

A partir do momento em que o vírus penetra no organismo, ele se multiplica no ponto onde ocorreu a inoculação viral, atinge o sistema nervoso periférico e, posteriormente, chega ao sistema nervoso central.


Quais as formas de transmissão da raiva?

A transmissão ocorre através da inoculação do vírus presente na saliva do animal infectado, mais comumente pela mordida, mas também pode ocorrer através de arranhadura ou lambedura de mucosas ou pele lesionada. Ainda é possível (porém raro) ser exposto ao vírus através da inalação do agente infeccioso por partículas de saliva em suspensão no ambiente e através de transplantes.

Quais são os sintomas da doença?

Em humanos, pode ocorrer prurido ou adormecimento no local da inoculação do vírus, febre, dores de cabeça, sinais gastrointestinais, medo de água ou correntes de ar, salivação, hipo ou hiperatividade, confusão mental, alucinações, paralisia, coma e morte.

Em cães e gatos, há mudanças no comportamento (agressividade, inquietação), alterações da tonalidade do latido (latido bitonal ou rouco) e dificuldade para engolir e salivação, aversão à luz, anorexia, vômitos, diarreia, convulsões, paralisia e morte. Ainda, é possível que ocorra morte súbita sem a presença de sinais mais específicos durante o curso da doença.

A raiva tem tratamento?

No caso de humanos, uma vez que o paciente tenha desenvolvido os sintomas da raiva, já não há tratamento eficaz. Quando há exposição e a pessoa busca atendimento imediato, há possibilidade de implantar a terapia profilática pós-exposição, altamente eficaz contra o desenvolvimento da doença. Para cães e gatos, não há tratamento específico.

A raiva tem cura?                                                           

Em cães e gatos não há cura. Em humanos, são raríssimos os casos de pessoas que sobreviveram à raiva, sendo que alguns ficaram com sequelas permanentes após a doença. Até hoje, no Brasil, somente duas pessoas sobreviver.

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