Professores Delaine Rodrigues Bigaton (à esquerda) e Marcio de Moraes, e a fisioterapeuta Elisa Bizetti Pelai, examinam paciente /Foto: Cesar Maia´-Comunicação FOP
Estudo constata que prática melhora qualidade de vida de mulheres que sofrem com dores causadas pela disfunção
A prática de exercícios cervicais pode ser uma aliada no tratamento da disfunção temporomandibular (DTM), evitando a necessidade de cirurgias orofaciais. Essa foi a principal conclusão da fisioterapeuta Elisa Bizetti Pelai em sua pesquisa de pós-doutorado, conduzida na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp. O estudo investigou os efeitos de um programa de exercícios de controle motor cervical em mulheres que sofrem com dores de moderadas a severas causadas pela disfunção temporomandibular e foi desenvolvido no Laboratório de Dor Orofacial da área de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial da faculdade.
Conhecida popularmente como DTM, a disfunção é um grupo de alterações na articulação temporomandibular (ATM), localizada próxima ao ouvido e responsável por ligar o maxilar à mandíbula. Suas causas são diversas, desde bruxismo à artrite, com sequelas que incluem estalos, zumbidos e dores nas articulações, nos músculos da região e nos ouvidos. Suas consequências incluem também limitação da função da mandíbula, travamento da abertura da boca e acometimento da região cervical, de onde saem todos os nervos que controlam a musculatura da face e do pescoço.
Apesar de atingir cerca de 40% da população do planeta, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a DTM, frequentemente tratada por meio de cirurgias delicadas, ainda é um tema de estudo bastante negligenciado. “Essa é uma região preocupante de se invadir, pois é preciso treinamento intenso e há importantes estruturas anatômicas, gerando riscos de piora do quadro. Além disso, a cirurgia não garante cura. Dessa maneira, o tratamento com fisioterapia especializada mostra excelentes resultados no controle da alteração muscular e articular”, alerta o cirurgião e docente da FOP Marcio de Moraes, que coordena o Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (CTBMF).
O profissional comenta que muitos jovens estão realizando a cirurgia de artroscopia com a justificativa de que a disfunção pode resultar, futuramente, na necessidade de uso de uma prótese. Contudo, segundo o cirurgião, embora a literatura científica não seja clara quanto aos efeitos de uma DTM não tratada, seus anos de prática clínica e docência demonstram que a maior parte dos pacientes não evolui para uma degeneração articular. “Isso é o oposto do que temos visto nos últimos anos. Existe um número excessivo de indicações para o procedimento, o que gera a ideia de que a cirurgia é o único caminho”, lamenta o docente.
A ideia do programa é oferecer uma alternativa conservadora para o tratamento da DTM, com foco no controle muscular. Para avaliar a sua efetividade, o estudo acompanhou 20 mulheres ao longo de 12 semanas. De acordo com Pelai, o tratamento testado demanda o apoio de um fisioterapeuta porque é necessário exercitar a musculatura correta isoladamente, pois, sem supervisão, o paciente pode utilizar outros músculos como compensação, fazendo aumentar a dor. “A gente encaminha uma cartilha com exercícios básicos que podem ser feitos em casa, em que não se corre o risco de usar uma musculatura acessória ou prender a respiração durante o movimento”, esclarece a cientista.
O estudo resultou em mais de 60 tabelas com informações que ainda estão sendo analisadas, mas dados preliminares já apontam melhoria em todos os parâmetros investigados, incluindo a qualidade de vida das participantes. Pelai observou, por exemplo, que o padrão de ativação da musculatura mastigatória durante a mastigação e a condição da musculatura em repouso – que deve estar parada – entraram em equilíbrio, que a força e resistência dos músculos aumentaram e que a dor relatada diminuiu consideravelmente.
“Nós também aplicamos um questionário de confiança sobre a terapia para saber qual era a expectativa que as pacientes tinham antes, durante e após o tratamento”, relata a fisioterapeuta. “Todas entraram no projeto muito desanimadas porque já haviam tentado outros tratamentos para a disfunção sem resultados satisfatórios. Mas, do meio para o final do processo, as pacientes manifestaram uma maior confiança na terapia e disseram que a indicariam para outras pessoas”, expõe.