O Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, desde quarta-feira, 1º de abril, está credenciado para realização de diagnóstico da Covid-19. Os testes para a detecção do novo coronavírus foram desenvolvidos pela força-tarefa Unicamp contra a Covid-19, liderada pelo professor Marcelo Mori, do Instituto de Biologia (IB). A equipe destaca que os testes ainda não começaram a ser realizados. A condução dos diagnósticos será realizada pelo Laboratório de Patologia Clínica do HC e pelo professor Alessandro Farias, coordenador da frente de diagnósticos da força-tarefa.
Quando iniciada, segundo o coordenador de comunicação da força-tarefa, professor Henrique Marques-Souza, a testagem será realizada nos pacientes internados e nos profissionais de saúde. “A prioridade são as pessoas que estão na internação, pois elas precisam seguir num protocolo de cuidado específico para a Covid-19”. Dessa forma, o foco inicial será dentro do HC. “É preciso verificar se as pessoas têm ou não o vírus para distribuir os leitos”, explica.
O professor elucida que, diferente da maioria das doenças, a Covid-19 nem sempre causa sintomas. No entanto, mesmo pessoas assintomáticas podem contaminar outras. “Pode haver nenhum sintoma ou todos os sintomas. Se eu não consigo olhar pelo diagnóstico visual, com a pessoa acamada, como eu identifico que a pessoa está com o vírus e que é preciso isolar? Por teste. Por isso, também existem um esforço geral para que os profissionais de saúde entrem na prioridade de testagem, para sua própria segurança e dos pacientes não infectados”.
Expectativa é ampliar a testagem
A expectativa, após a focalização na demanda interna, é que a capacidade de realização de diagnósticos seja ampliada. “Conforme formos conseguindo maior capacidade de testes, existe a possibilidade de expansão”. Para que isso aconteça, fatores como a importação de reagentes e a captação de recursos precisarão ser superados.
Como poucas empresas fabricam estes reagentes no Brasil, a importação é necessária. “Os reagentes são importados. O que acontece é que o mundo inteiro está em guerra contra o coronavírus comprando as mesmas munições [os reagentes]. E além disso, ao depender da importação, dependemos do transporte e da mobilidade, o que está afetado pela pandemia”, avalia Henrique.
Para o professor, isso mostra que os governantes e as organizações do setor produtivo deveriam fomentar a criação de empresas de insumos e serviços de biologia molecular no país. “É estratégico para o Brasil ter uma frente própria que alimente a ciência nacional”, pontua.
As perspectivas, no entanto, são positivas, na medida em que há uma conjugação de esforços de diversos setores em vistas a suprir as demandas necessárias para o combate da pandemia causada pelo novo coronavírus, o Sars-Cov-2.
Em relação à captação de recursos, por exemplo, Henrique cita os editais de fomento à pesquisa contra a Covid-19, com liberação de recursos para este fim, além do entendimento de empresas de que é preciso investir na luta contra a doença. “Quanto mais as empresas ajudarem os cientistas a reduzirem os impactos da pandemia, menos eles vão sofrer por conta dos danos econômicos. Então está todo mundo caminhando na mesma direção”.
Isolamento ainda é necessário
Num cenário ideal, pontua o professor, o controle da pandemia passaria por testar todas as pessoas. Na impossibilidade, a principal medida para o controle da doença segue passando pelo isolamento, até para evitar a superlotação dos hospitais. “Se a gente tivesse um teste para todas as pessoas do país, não iria precisar do isolamento social. O problema é que não temos a como testar todos. Então, na dúvida, é melhor isolar todo mundo do que correr o risco, até porque cada pessoa contaminada passa para outras 2,5 pessoas, em média”.