Setores com tendência à alta são responsáveis por 16% do emprego e 22% da massa salarial da indústria; por outro lado, atividades importantes despencam
Uma avaliação elaborada pelo Observatório PUC-Campinas, baseada em dados da PIM/IBGE e do Ministério da Economia, mostra que setores específicos da indústria, voltados à fabricação de produtos de limpeza e higiene, papel e celulose, máquinas e equipamentos agrícolas, tiveram crescimento na produção em meio à pandemia do novo coronavírus. Os segmentos em alta são responsáveis por 16% do emprego e 22% da massa salarial ligados à Indústria de Transformação da RMC.
De acordo com a análise, realizada pelos economistas Paulo Oliveira e Eliane Rosandiski, o setor responsável pela fabricação de sabões, detergentes, produtos de limpeza e higiene, cosméticos e perfumaria, apresentou o crescimento mais expressivo em relação à 2019, com alta de 14,69%. Essas mercadorias, somadas a outros produtos químicos, sofreram aumento na demanda devido às práticas adotadas pela população para a prevenção do contágio da covid-19.
Os fabricantes de máquinas e equipamentos, bem como de papel e celulose, também ostentam crescimentos produtivos durante a pandemia. Comparando-se ao ano passado, houve aumento 9,22% e 3,92%, respectivamente, puxado pela demanda de máquinas agrícolas e por insumos à produção de lenços, papéis de higiene pessoal e embalagens.
Com queda pequena, outros segmentos industriais apresentam certa resiliência em meio à crise causada pelo coronavírus: são fabricantes de farmoquímicos e farmacêuticos; de equipamentos de informática e eletrônicos; e de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis. Os setores, embora tenham retraído suas produções em relação ao mesmo período de 2019, seguem tendo demanda por serem essenciais mesmo no contexto de pandemia. No caso dos equipamentos de informática, vale destacar o efeito positivo das atividades remotas exigidas no isolamento social.
Juntos, os setores com tendência de alta e com queda relativamente baixa são responsáveis por 26% do emprego e 34% da massa salarial da Região Metropolitana de Campinas, considerando só a Indústria de Transformação. Para a docente Eliane Rosandiski, a continuidade dessa tendência é essencial, sobretudo no setor químico, que costuma pagar melhores salários médios a seus funcionários. “A continuação dessa dinâmica, puxada pela demanda de produtos de limpeza e cosméticos, será muito importante à manutenção da parcela do consumo na RMC”, avalia.
Setores mais impactos
A nota do Observatório PUC-Campinas revela, no entanto, que os efeitos do novo coronavírus têm sido devastadores para boa parte dos segmentos da indústria. Os mais afetados até o momento são os fabricantes de equipamentos para transporte, confecção de artigos de vestuário e acessórios, veículos automotores, bebidas, e produtos têxteis. As quedas em relação ao ano passado variam de 10% a 33%. Os setores com grandes retrações respondem por 45% do emprego gerado na Indústria da RMC e 42% da massa salarial.
Por essa razão, apesar dos resultados positivos para segmentos específicos, a análise evidencia um impacto significativo às atividades econômicas regionais. “A reversão desse quadro ainda é bastante incerta, porque depende de condições econômicas internas e externas. Como a crise é global e as maiores economias do mundo têm tido dificuldades em retomar de forma rápida as atividades de produção e consumo, o panorama deve se agravar antes da retomada”, destaca o professor Paulo Oliveira.