*Tiago Machado
O mundo todo vive um momento de discussões e protestos por diversidade e equidade. Nas últimas semanas, os Estados Unidos vivem a mais grave onda de manifestações desde 1968, após o assassinato do líder de direitos civis Martin Luther King Jr. Desta vez, o estopim dos protestos foi a morte de George Floyd, um americano negro de 46 anos, que foi sufocado por um policial branco. O mundo todo, inclusive o Brasil, aderiu às marchas antirracistas que empunhavam o mote #VidasNegrasImportam.
Uma das discussões levantadas é como conter o racismo estrutural e ampliar a diversidade na sociedade. Como as empresas brasileiras podem fazer isso?
Já é de conhecimento dos executivos que a diversidade entre os funcionários de uma empresa está entre as dez mais frequentes preocupações dos profissionais de Recursos Humanos no Brasil. O que muitas companhias ainda não sabem é que a tecnologia pode ser aliada para colaborar no aumento da diversidade no ambiente corporativo.
A ciência “correta” para isso é chamada Inteligência Artificial. Ao contrário do que muitos pensam, não estamos falando de soluções que simplesmente promovem um match entre as palavras chave dos currículos enviados e o check list elaborado com base em “achismos”.
A tecnologia serve para neutralizar fases sensíveis dos processos de contratação, reduzindo vieses envolvidos. É necessário priorizar o uso da Inteligência Artificial a fim de desmistificar o modelo de profissional que faz a diferença para o negócio. A IA tem a real capacidade de aprendizado de evitar a discriminação, indo muito além da atividade de juntar palavras da coluna A com os termos da coluna B.
Utilizando recursos avançados de IA como NLP – Natural Language Processing (Processamento de linguagem natural) e Machine Learning (Aprendizado de Máquina) que permitem, por exemplo, analisar as características emocionais, o que denominamos como soft skills – e não apenas técnicas – dos profissionais que mais se adaptam à necessidades da empresa e, consequentemente, tendem a ter ciclos maiores e entregar os melhores resultados. Por vezes, o algoritmo surpreende o recrutador, ao apontar que suas premissas estavam bem diferentes dos padrōes antes utilizados.
Não jovens, mas os funcionários mais sêniors conseguiam entregar os projetos com agilidade, por exemplo. Entre as melhores características, o algoritmo não apontou a necessidade de ter o inglês fluente. Só por aí, tem-se dois “achismos” (preferência por faixa etária e excelente conhecimento de um idioma) que cairiam por terra na próxima contratação. Mas até isso ser uma regra, quantos milhões de brasileiros continuarão sendo descartados exatamente por causa dessas duas exigências. A máquina foca única e exclusivamente em competências que fazem sentido para o negócio.
Se bem aplicada, a Inteligência Artificial poderá garantir que todas as candidatas e candidatos sejam analisados de forma equânime e que – por alguma razão preconceituosa – teriam poucas chances de serem chamados para uma entrevista presencial passem pelas triagens iniciais, pois são pessoas que se identificam com um padrão de excelência, às vezes pouco conhecido pelos recrutadores.
A equipe de Recursos Humanos não será substituída pela máquina, mas terá seu tempo otimizado a partir da tecnologia. Isso implica maior disponibilidade para o acompanhamento do capital humano dentro da companhia. Um estudo da consultoria McKinsey, divulgada em 2018, com mil empresas de 12 países aponta que uma maior diversidade é sinônimo de mais lucratividade. Segundo a pesquisa, a probabilidade de gerar lucro é 21% maior em empresas que apresentam diversidade de gênero e de 33% maior entre aquelas que têm diversidade étnica.
Mesmo a área específica de recrutamento ganha com a adoção da IA nesse processo, já que poderá fazer escolhas mais precisas ao se deparar apenas com ótimas opções de candidatos e candidatas apontadas pela tecnologia. Nesse momento, o “robô” sai de cena para deixar a decisão final com o cérebro humano. Afinal, na hora da entrevista, nada substitui a empatia e a sensibilidade – imprescindíveis para uma seleção – vindas do profissional de RH.
*Tiago Machado é sócio da Rocketmat, empresa brasileira de Inteligência Artificial especializada em analisar e desenvolver algoritmos, baseando-se em dados de pessoas originados de educação, carreira, comportamentais – soft e hard skills e desempenho.