*Dr. Sivan Mauers
A abordagem visual dos filmes é um poderoso instrumento utilizado para elucidar de forma didática a realidade dos transtornos mentais e demais problemas de saúde, atuando desde o reconhecimento das doenças até sua aceitação social. Contudo, o mundo do “show business” peca na forma certa de retratar esses distúrbios, associando-os sempre a loucos ou assassinos que, muitas vezes, conseguem alternar suas personalidades apenas com a força do pensamento.
“Isso estigmatiza os portadores de transtornos mentais, vinculando-os a um comportamento violento, irracional e perigoso para a sociedade”, aponta Dr. Sivan Mauer, médico psiquiatra especialista em transtornos de humor. “Em geral, esses indivíduos não fazem mal às pessoas a seu redor, mas sim a si próprios”, complementa. De acordo com o especialista, atualmente é possível olhar os transtornos de personalidade através dos conceitos de temperamentos afetivos, ‘re’descobertos recentemente pela psiquiatria.
Os conceitos de temperamentos podem ser separados em três tipos básicos: Hipertimia, que contempla sintomas leves de mania, como aumento da energia, necessidade diminuída de sono, libido exacerbada, sociabilidade, extroversão e senso de humor; Distimia, que engloba sintomas depressivos leves, como baixa energia, maior necessidade de sono, libido reduzida, ansiedade social, introversão, baixa produtividade no trabalho; e Ciclotimia, que apresenta constantes alternâncias entre sintomas leves de depressão e mania, como altos e baixos no humor e nos níveis de atividade.
Os três conceitos são baseados na construção afetiva-comportamental do paciente, de forte origem genética. “Parentes próximos de pacientes com transtorno bipolar, por exemplo, têm um maior grau de desregulação temperamental, podendo apresentar transtornos de personalidade ao longo da vida”, explica. Segundo o especialista, pesquisas identificaram uma prevalência mais alta de temperamento ciclotímico em pacientes com histórico familiar da doença, principalmente em parentes de primeiro grau de pacientes com doença de transtorno bipolar.
Para o psiquiatra, o grande problema ao redor dos transtornos de humor é negligência no tratamento. “Ao ignorar os sintomas particulares de cada tipo de transtorno, os antidepressivos são usados em excesso, com menos eficácia e consequências prejudiciais”, aponta o especialista. “O melhor a se fazer é direcionar o paciente para uma avaliação com um médico psiquiatria a fim de entender a melhor alternativa terapêutica e, consequentemente, aumentar as chances de sucesso no tratamento”, completa o Dr. Sivan Mauer.
*Dr. Sivan Mauer, psiquiatra especialista em transtornos de humor